Verão da Alma
Isabel Xavier
Quando a tarde inteira se esvair
Sem que do dia reste qualquer mágoa
A maré alta da noite há-de subir
E as ruas da madrugada serão água
E um fino fio de sangue há-de jorrar
Do altar a meio da praça levantado
A horas mortas quando o sino ecoar
Avé Marias que ecoam do passado
Cenários de pedra e cal virão erguer
A vitória silenciosa de quem sente
E pouco a pouco aranhas vão tecer
A ténue teia dum tempo que não mente
E um dia caminhará atrás do outro
Até que um raio de luz enfim se aviste
E a artística lide de um só touro
O leve a ceder à espada em riste
Nada mais sabendo fico aquém
De algo que em mim se fez presente
Memória de um sentido mais além
Daquilo que a palavra diz ou sente
Inominável em mim e tão distante
Verão da alma, intenso, insuportável,
Quantos caminhos cruzarás adiante
Da viagem de regresso, interminável?
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