Rodrigo Sobral Cunha nasceu em Lisboa, aparentemente em 1967. Fez estudos de Filosofia, tendo-se doutorado na Universidade de Évora. Lecciona presentemente no IADE. É autor dos livros Filosofia do Ritmo Portuguesa, editado pela Serra d’Ossa em 2008, e A Teoria Silvestrina da Harmonia do Universo – Homem, Mundo e Deus na Obra de Silvestre Pinheiro Ferreira, também saído no ano passado, mas com a chancela da INCM. Tem desenvolvido ampla actividade como tradutor no domínio filosófico. É nadador nas horas intravagantes e jogador de bilhar nas extravagantes. Nas horas mais sérias, é caminhante. E é leitor da Flor de Oiro.
(O SOM ABSTRACTO)
Nótula
“Harmonizar Oriente e Ocidente pela música” foi a tarefa que generosamente aceitou Hazrat Inayat Khan, “cuja nação era todas as nações, o local de nascimento o mundo, a religião todas as religiões e o trabalho o serviço de Deus e a humanidade”, como dele próprio disse. E ele mesmo caracterizou essa tarefa como “a mais difícil que poderia alguma vez imaginar”, ainda que a música, no sentido em que a entendia, fosse a própria essência do universo. A escala ideal da actuação magistral de Inayat Khan é dada no seu objectivo de “sintonizar as esferas interiores dos países num tom de vibração mais alto”. Foi praticamente há um século que esse sufi pisou o solo do Ocidente e o eco dos seus passos de paz pode escutar-se ainda com uma surpreendente nitidez. Anotou ele num registo autobiográfico: “Fui transportado pelo destino do mundo da lírica e da poesia para o mundo da indústria e do comércio, a 13 de Setembro de 1910. Despedi-me da minha terra-mãe, o solo da Índia, a terra do sol, para a América, a terra do meu futuro, interrogando: ‘talvez eu regresse um dia’, e contudo não sabia quanto tempo passaria até voltar. O oceano que tinha de atravessar pareceu-me um golfo entre a vida passada e a vida que ia começar. Passei os meus momentos no barco a olhar para a subida e a descida das ondas e vendo aí reflectida a imagem da vida, a vida dos indivíduos, das nações, das raças, e do mundo.” Logo nos primeiros títulos das obras que publicou no Oeste, aliás num inglês de uma notável claridade, transparecem os aspectos perenes do horizonte contemplado: “A Message of Spiritual Liberty”, “Pearls from the Ocean Unseen”. Mas era no exemplo pessoal e no contacto directo que especialmente se empenhava e raramente será encontrável algo de semelhante ao modo como Inayat Khan conjugou os pólos interior e exterior do fenómeno religioso; já que, conforme entendia, “a religião é a fundação de toda a vida no mundo e enquanto não se estabelecer um entendimento entre os seguidores de todas as diferentes religiões, será sempre difícil esperar por melhores condições”. Ciente da magnitude da causa a que se dedicara e procurando sempre transcender todas as limitações, até para melhor conhecer o ilimitado, podia assim observar: “quanto mais se alarga o ponto de vista, maior é a alma”.
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Rodrigo Sobral Cunha
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