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Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



segunda-feira, 16 de novembro de 2009

AFORISMOS, 10

Eduardo Aroso

46 – A Verdade guarda-se no mito: virgem para se entregar aos braços irreconhecíveis de cada época.
47 – O dia de hoje não é só o dia de hoje. É o dia de todos os tempos. Hoje, porém, devo dar-me a este tempo presente. Para que, no futuro, não se diga em vão que esse dia não é de todos os tempos…
48 – Quando, a torto e a direito, ouvimos a expressão “este país”, para além do mecânico hábito de impensada repetição, ainda assim podemos crer que algo fala verdade pela desocultação de uma ausência, ou seja, a insistente menção a “este país” significa que um outro existe ou poderá vir a existir. Dado que a expressão tem sido sinónimo de uma fonte interminável de desgraças e dissabores culturais, é de crer no “outro país”, mais verdadeiro, estável e prometedor. Nele vive conscientemente a nação e – melhor ainda – a pátria, o ser inconfundível e universalmente português.
49 – Todo o pensamento que seja faina diária provoca transpiração. Mais do que a segregação das glândulas endócrinas vertida directamente no sangue, esse suor do pensamento espalha-se pela alma e pelo intelecto. Ao contrário dos vírus que tendem a disseminar-se rapidamente, esse misto de transpiração e dor só se abre em plenitude no tempo certo; assim as flores na época apropriada.
50 – A Torre de Belém, ante o mar e o horizonte, está voltada ao céu para sonhá-lo e, um dia, deixar a terra. Para onde se erguem as torres de hoje?

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