Brevíssimo diálogo desconcertante
Encontro um amigo na rua e saúdo-o naquele estado habitual em que se saúdam as pessoas umas às outras, quer dizer, em que é o hábito social a falar por nós, em que perguntamos sem que esperemos uma resposta verdadeira.
Na imagem: Impressão: nascer do sol, de Claude Monet
- Repara, o sol ergueu-se no céu e veio iluminar a terra; eu despertei como que da morte, pois deitei-me de noite e só me levantei com o sol a erguer-se e não me lembro de nada entre o deitar e o levantar; andei, senti, pensei, pude olhar o mundo e tudo isto sem sentir que estou vivo. Não é espantosa a estupidez a que se pode chegar?
- Pois - balbuciei, turbado e desconcertado. - Até amanhã, Denis! - preferi despedir-me, antes que eu mesmo começasse a sentir que estou vivo.
texto originalmente publicado no blogue Maranos
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