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terça-feira, 13 de outubro de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 25

Cynthia Guimarães Taveira


Mundos
Havia o dia-a-dia e a vida percorrida. Depois havia a impressão dela. Uma impressão pictórica. Não havia estilo nem estilização como estigma. Todo o estilo era involuntário, toda a estilização o resultado da exigência do símbolo. O mundo onírico diurno acompanhava os passos do pintor. O mar era o mar e a sua pintura. A janela rendilhada a pedra viva dentro e fora dela. O sonho, da noite, vivia no dia vibrando na tela. Lançava redes entre mundos, capturava a luz da parede caiada e, do outro lado, captava a luz interior. Fundia-as nesse branco titânio com gotas salgadas de amarelo-limão. O pincel giratório deixava remoinhos, moendo os pigmentos até que fossem um só. Dessa fusão transbordava o calor. Todo aquele que tinha passado primeiro do coração para as mãos, depois, das mãos para o pincel e, por fim, descansando agitado na tela. Dizem que, quem se aproximar dela, sente esse calor. Os pintores são caçadores de luz, a tela, a sua alma estendida pela eternidade.

1 comentário:

  1. O CORAÇÃO DAS CORES

    Eu gostava de pintar a tela do meu coração com o pincel de um amor, em que as cores seriam caçadoras de mundos que desconheço. Como é que as cores rodariam, como é que, cada uma delas, traduziria, cada sentimento, cada olhar, cada corpo, cada dança que inventaria a ingenuidade de um primeiro beijo, a simplicidade da ternura no viveiro da paleta? Que tintas ousadas empregaria para criar perfumes, com que a luz dos amantes nocturnos iluminariam as janelas que me revelariam todos os fascínios que se embebedariam com as cores que seriam as fontes marítimas de gaivotas brancas, cruzando a claridade eterna do azul celeste? E se o meu coração falasse com cores, que palavras eu ouviria a esses mundos que me giram no cérebro, sem a cor de si mesmos? Eu e as cores seríamos a linguagem de tudo o que o amor deseja e o pincel não pinta, porque não há cores que apaguem o fogo do amor que elas próprias criaram ao pincel da eternidade.

    Oeiras, 16/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

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