Parece que desta vez é que a coisa avança: Trancoso vai finalmente ter o seu Museu Bandarra e o seu Centro de Interpretação Judaica Isaac Cardoso. Há mais de três anos que um grupo de consultores, do qual faço parte, trabalha neste duplo projecto, apresentando ideias, elaborando sucessivos estudos e documentos, mas o Município enfrentou sucessivas dificuldades em dar concretização ao que se propunha. A ordem de avançar surgiu agora.
A atribuição do nome de Isaac Cardoso a este Centro justifica-se plenamente pela vida e obra exemplares deste filho de Trancoso, ali nascido em 1603 ou 1604, mas que foi obrigado a viver em Espanha (onde estudou nas universidades de Valladolid e Salamanca, doutorando-se em medicina, ensinou filosofia, publicou sonetos, foi amigo de Lope de Vega, publicou tratados científicos) e depois em Veneza (onde se assumiu como judeu e publicou «Philosophia libera», 1673 – considerada por Yosef H. Yerushalmi como «a primeira obra maior de filosofia geral escrita e publicada por um judeu praticante numa língua profana e destinada desde o início a atingir um vasto público europeu») e em Verona, onde viria a morrer em 1683. Em 1679 ainda publicou em Amesterdão a obra «Las Excelencias de los Hebreus», dedicada ao português Jacob de Pinto, e em que cita o Bandarra, Damião de Góes, Samuel Usque e Menasseh ben Israel.
O nome de Isaac Cardoso é conhecido, respeitado e venerado em muitos lugares do mundo, excepto em Portugal, como de costume. No entanto, em Trancoso, onde nunca foi esquecido, há uma rua com o seu nome, situada precisamente junto do local onde se vai erguer este Centro.
Pelo menos, é o que está previsto.
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