Quiseram os Fados que o meu sexto neto nascesse neste dia 6, em que passam dez anos sobre o desaparecimento físico de Amália, essa mulher que deu para sempre voz e alma ao estranho Fado que nos envolve. A minha filha Madalena deu à luz, lá longe em Inglaterra, um menino a quem ela e o Miguel resolveram chamar Sebastião ou Sebastian, uma vez que o menino terá dupla nacionalidade.
Quando soube da intenção de lhe darem esse nome, encolhi-me, hesitei: Sebastião é um nome com um peso excessivo, nome de santo-mártir (cravado de setas) e de rei controverso, para uns louco e efeminado, para outros rei eterno, desejado e encoberto, como convém a um messias.
Dom Sebastião, de Cristóvão de Morais
Mas a decisão era dos pais, não dos avós. Assim seja. Assim é.
Ou somente um jogo de computador ainda mais realista para lhe trocar os sonhos por simulações no ecrã? Só sei que também este Sebastião nasceu em tempos de crise maior e que desta vez não haverá um Camões para lhe ler o poema do destino de Portugal. Aliás, nem sei se ele algum dia se sentirá português, ou inglês, ou anglo-português, ou simplesmente «cidadão global», seja lá isso o que for. De qualquer modo, meu neto Sebastião, sê bem vindo à Vida neste mundo. Um instante antes de nasceres, um anjo tocou-te no lábio e apagou-te a memória de tudo o que aprendeste no ventre de tua Mãe. Agora terás de reaprender tudo aqui, com os pés na Terra e os olhos do Coração postos no Céu – de onde vieste e para onde voltarás. Pode ser que, um dia, descubras o que o também bilingue Pessoa dizia:
«Se tivermos de ter uma língua natural universal, essa língua será o Inglês; para o que queremos aprender leremos Inglês; para o que queremos sentir, Português. Para o que queremos ensinar, falaremos Inglês; Português para o que queremos dizer.»
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