Testemunho a/de António Telmo
José Albuquerque
Dar depoimento é fazer prova e fazer prova é demonstrar. É assim que o testemunho é encarado como prova judiciária.
Enquanto prova, o testemunho tem por objecto algo que é duvidoso, incerto ou controverso e é o julgamento que reconhece, por via dessa prova, um facto ou um direito com valor de verdade, que depois a sentença apenas ratifica.
Há aspectos do testemunho, enquanto prova, que não se podem transpor, como critérios, quando quem queremos homenagear é o Dr. António Telmo.
Desde logo, não está em causa, nem é necessário demonstrar ou fazer prova do seu encanto.
Depois, a sabedoria que se lhe reconhece não é nem controversa, nem incerta, nem duvidosa.
E sobretudo a verdade das suas palavras não requer qualquer julgamento nem sentença que a ratifique.
Não posso assim dar testemunho do Dr. António Telmo, porque esse testemunho, enquanto prova ou demonstração, é em si mesmo impossível.
Aliviado desse encargo, é de outro testemunho que gostava de dar fé: do seu próprio «testemunho», daquele que ele transporta e que tem passado àqueles que, com privilégio, lhe querem bem e o procuram honrar e merecer.
Mas como posso dele dar fé se pouco e mal conheço a sua obra?
Sendo fraca testemunha da obra, sou-o porém do que vi e conheci e do que se produziu na minha presença quando o ouvi filosofar nas várias ocasiões em que esteve em Sesimbra.
Afinal, não é a presencialidade ao acontecimento que dá credibilidade intrínseca à testemunha?
Se alguma credibilidade me for então reconhecida, dou fé em primeiro lugar do desejo de melhor conhecer e, quem sabe, também merecer, o «testemunho» do Dr. António Telmo. Imagino-o muitas vezes como o sábio que, no texto de Agostinho da Silva, escreve as «sete cartas a um jovem filósofo». Quanto gostava de receber uma e de através dela me sentir livre do peso do fato que os homens me fizeram vestir, como diria Fernando Pessoa!
Dou depois fé da capacidade de fazer espantar quem o ouve. Num tempo em que a vida manipula os homens, faz deles gente do erro e do medo e lhes quer sugar a alma, em que gostaríamos de nos sentir livres de tanta coisa que carregamos às costas, mesmo sem sabermos, em que a ganância e a vileza esburacou e depois encheu a alma dos homens com excrementos, esse é o privilégio maior, tão poucas são as sãs oportunidades de espanto pela palavra.
Dou fé ainda da luz que as suas palavras e raciocínio irradiam, da atracção que essa luz causa e da elevação espiritual que a todos os que o ouvem congrega.
Admirado pelo testemunho a/de António Telmo, corro o risco de, quando morrer, ao ir à presença de Deus para prestar contas, ele me perguntar porque é que, tendo-me sido dada vida e nome próprios, quis ser como António Telmo.
Certamente, António Telmo, espiritual e luminoso, total e intensamente António Telmo, nunca será sujeito a esse juízo de Deus, mas apenas ao seu testemunho.
Com admiração,
J. Albuquerque.
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