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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

REENTRAR NA «CATEDRAL», 9

Maternidade
Isabel Xavier

Esperava um filho e naquele dia orou
Sentiu-se em comunhão com o Universo
Cresceu em si rara força, chorou
Procurou papel e lápis, fez um verso

E nele colocou toda a força do seu estado
Sentiu-se mais que o mundo, só Amor
Sabia de antemão qual o sítio, qual o lado
Onde a levava aquele medo, aquela dor

Saber-se e em si o ente que sentia
Mover-se em si como algo de divino
Conhecer em seus gestos o que havia
Já, antes ou depois do que adivinho

Ser a verdade essencial ou parte dela
De forma única que mais ninguém conhece
Mística partilha mais do que aquela
Em que dois são um e um só vence

Com sua força as amarras que há no mundo
Não há amarras que prendam uma mãe
Que, passo a passo, vai chegando ao fundo
Do mistério maior que a vida tem

Algo distinto e muito mais do que ela
Transmissão de sentimentos, alquimia
Espelho de luz que em si luz enquanto vela
Por aquele novo ser que em si vivia

O ar, o céu, a terra, o mar
De todos eles se sente aparentada
E em cada gesto ou passo que vai dar
Há a firmeza que conhece o tudo e o nada

Nada no mundo a isso se compara
Estava viva de uma forma nova e mágica
Soube-se a dor que no mundo nunca sara
Porque é fora do mundo que há a trágica

Centelha de espírito que se anima
Quando viver é sinónimo de amar
E nascem as palavras com que rima
A verdade que um dia há-de reinar.

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