A cavalo nas palavras
Vou cavalgar as palavras
Pra fazer navegações –
Procuro as selas mais raras:
Ir aonde nunca ousaras,
Mais longe do que supões.
Vou procurar as que ainda
Guardam a força primeva –
Nos garantem ida e vinda,
Ou essa viagem infinda
Que ao outro lado nos leva.
Se for preciso inventá-las,
As que tenham bom assento,
Criemos novas palavras,
Pra voar sobre as searas
Sem a ajuda do vento.
Procuremos solidez:
Vogais amplas, consoantes
Como estas que aqui vês –
Som redondo, português,
Pra trotarmos confiantes.
E a galope sobre a folha
Passemos ao próprio ar –
O infinito nos recolha
Quando acabarmos a volta
Cansados de cavalgar.
Quererás tu ir comigo
Nestas viagens secretas
Que há tantos anos prossigo
Sentado no dorso amigo
Das palavras dos poetas?
Temes a navegação,
Os abismos do poemas,
Tens medo de dar-me a mão,
Ir aonde poucos vão
Ver a verdade suprema?
Repara que encontrarás
No fim de cada jornada,
Um mundo d’eterna paz,
Onde se vive e se faz
O que ao amor tanto agrada –
E nada há senão isto:
Um eterno cavalgar –
Plas palavras é que existo,
Vivo, vou, voo, persisto –
São meu cavalo e meu lar.
Do livro em preparação, Poemas Circulares: Moradias e Navegações
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