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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

PALAVRAS QUE FAZEM VER, 17

[Álvaro Ribeiro e Sampaio Bruno]

“José Pereira de Sampaio nasceu a 30 de Novembro de 1857 na cidade do Porto. Naquele tempo fundava-se em Lisboa o Curso Superior de Letras, que em 1870 seria transformado em centro de difusão do positivismo. Influenciado pelas obras dos alemães Feuerbach, Strauss e Büchner, publica Sampaio Bruno em 1874 o seu primeiro livro, intitulado Análise da Crença Cristã.
Não faltam, nos escritos do pensador portuense, elementos de autobiografia espiritual, segundo os quais poderemos reconstituir o movimento intelectual do Liceu do Porto e de outras instituições culturais da Cidade. Vinte anos de intensa doutrinação republicana, na qual Sampaio Bruno colaborara também como jornalista, tiveram por consequência o movimento militar de 31 de Janeiro de 1891. Comprometido na preparação da conjura revolucionária, o nosso compatriota teve de seguir para Paris, onde se dedicou a estudos filosóficos e religiosos.
Efectivamente, só com o livro Notas do Exílio (1892) é que Sampaio Bruno enceta a sua verdadeira carreira de escritor, em total independência perante o naturalismo, o socialismo e o ateísmo dos colaboradores das Conferências do Casino. Ao naturalismo em literatura opõe Sampaio Bruno o simbolismo, fundado no princípio da imaginação criadora; à sociologia internacional opõe a política nacional, segundo a doutrina republicana; ao ateísmo militante opõe o messianismo de A Ideia de Deus. Afastando-se de Antero de Quental, Oliveira Martins e Eça de Queirós, para acompanhar Teófilo Braga e Guerra Junqueiro, foi expondo o seu pensamento original em teologia, antropologia e cosmologia, tornando assim possível a fundação da filosofia portuguesa.
É discutível, mas inegável, a inferioridade da geração de Antero, Eça e Martins em relação à de Castilho, Garrett e Herculano. Apreciando pelos frutos as árvores que plantaram, comparando os efeitos dos escritos de uns e outros, não teremos dúvidas sobre quais artistas são mais leais a Deus, à Pátria e ao Rei. A discussão pode incidir apenas sobre questões de estilística, e se não estamos ainda suficientemente esclarecidos para considerar Castilho poeta superior a Antero, Garrett romancista superior a Eça, Herculano historiador superior a Martins, reconheceremos, todavia, que os homens da geração de 1870, se muito bem leram e muito bem escreveram, entre o ler e o escrever não se deram ao difícil trabalho de pensar.”
Álvaro Ribeiro

(excerto retirado de A Arte de Filosofar, Portugália, 1955)

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