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Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



domingo, 15 de março de 2009

A PONTA DO VÉU, 15

Pergunta: “Quantos têm a coragem que é necessária para assumir o legado de Álvaro Ribeiro?”. É deste modo que Pedro Sinde, no artigo Harmonia Abraâmica: o triplo anel ou a herança de Portugal, agora dado em excerto, reactualiza e renova o problema da filosofia portuguesa no primeiro número dos Cadernos de Filosofia Extravagante, assinalando e acentuando a confluência das três religiões monoteístas na formação do nosso pensamento tradicional.
Pedro Sinde nasceu no Porto em 1972. Ali, na Faculdade de Letras, se formou em Filosofia. Presentemente, vive em Matosinhos e é bibliotecário na sua terra natal. Tem andado pela filosofia portuguesa desde 1997, altura em que conheceu António Telmo em Estremoz. De lá para cá tem procurado compreender a especificidade portuguesa no seio da Tradição universal.
Dirigiu, com Joaquim Domingues, a revista Teoremas de Filosofia (Porto, 2000-2005), na qual publicou vasta colaboração. Traduziu um pequeno ensaio biográfico sobre Julius Evola, Evola de Jean-Paul Lippi. Prefaciou edições da Teoria Nova da Antiguidade, de Sampaio Bruno, para a INCM, e da Mensagem, de Fernando Pessoa (preservando a grafia original deste livro), para a Porto Editora. Integrado no volume António Telmo e as Gerações Novas (Hugin, 2003), publicou o ensaio “Deambulações em Torno de Filosofia e Kabbalah”.
É autor dos livros O Velho da Montanha - A Doutrina Iniciática de Teixeira de Pascoaes (Hugin, 2000); Terra Lúcida – A Intimidade do Homem Com a Natureza (Pena Perfeita, 2005); A Montanha Mística / Cartas da Prisão (Terras de Fogo, 2007); e, na Serra d’Ossa, em 2008, d'O Canto dos Seres: Saudade da Natureza.

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HARMONIA ABRAÂMICA: O TRIPLO ANEL OU A HERANÇA DE PORTUGAL

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3. O legado de Álvaro Ribeiro

Quantos têm a coragem que é necessária para assumir o legado de Álvaro Ribeiro? Muitos o citam, mas poucos o aceitam integralmente: “Três tradições concorrem na formação do pensamento português: a judaica, a cristã e a islâmica”; “Três tradições concorrem para a formação da filosofia portuguesa”; “Três tradições inspiram a filosofia portuguesa”; ou ainda “As três tradições portuguesas decorrem à margem da disciplina clássica e impregnam muito mais a alma popular (…)”. E, consequentemente, estimulava os estudiosos, como Garcia Domingues ou Mendes dos Remédios, por estudarem respectivamente a tradição luso-árabe e luso-hebraica.
Vendo Portugal como uma forma em que peculiarmente as três tradições se integraram, Álvaro Ribeiro, no seu messianismo profético, chega mesmo a referir, como contraponto ao Super-Camões de Pessoa, um Super-Dante, citando de seguida os estudos de Asín Palacios que vieram demonstrar como a cultura cristã de Dante tinha por fundamento a cultura islâmica. É verdade que Miguel Asín Palacios, com o seu livro La escatologia musulmana en la Divina Comedia, demonstrou, de um modo nunca mais desmentido e sempre mais confirmado, que a cultura cristã e a cultura islâmica se casaram perfeitamente em Dante. Ainda noutra referência a Dante, Álvaro Ribeiro lembra que a significação mediterrânea aristotélica da sua obra muito influiu na cultura portuguesa. Deste modo, soube Álvaro Ribeiro dar expressão a esta ideia de que Portugal só pode esperar um “super-Camões”, isto é, um novo grande poeta, que seja simultaneamente o herdeiro da nossa tripla tradição. Nas suas palavras está sempre patente um elogio seja do marrano, seja do mourisco, como duas formas que perduraram no tempo, influenciando subtilmente mesmo os autores contemporâneos; a propósito de Garcia Domingues, por exemplo, diz: “mas oxalá que o ilustre autor da História Luso-Árabe prossiga nas suas investigações para nos dar as provas de que a mesma tradição perdurou até aos nossos dias e influi ainda no pensamento de alguns escritores nossos contemporâneos.” (Dispersos, vol. II, p. 249).
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Pedro Sinde

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