(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



sexta-feira, 21 de agosto de 2009

PENSANDO À BOLINA, 8

Pedro Sinde


Amor fati
"Amor fati" é uma expressão latina que exprime a ideia de que se deve amar o seu próprio destino. De vez em quando somos confrontados com acontecimentos inevitáveis, mesmo que nos pareçam pequenos. Perante o inevitável, o necessário, o destino, podemos resignar-nos ou, então, numa atitude de alma mais nobre, aceitá-lo como se tivesse sido uma escolha nossa.
Somos muito menos do que a imagem superficial ridícula que fazemos de nós, mas também somos muito mais, isto é, existe em nós uma sabedoria latente, profunda, pré-natal, que ultrapassa tudo quanto podemos sonhar. Infelizmente estamos separados de nós mesmos, vivemos à superfície de nós mesmos.
No mito de Er, Platão descreve que a alma, antes de nascer, escolhe o seu destino. Perante isto, sabendo isto, podemos, pois, aprender a descobrir porque é que escolhemos aquele acontecimento da nossa vida. Aprendendo a amar o nosso destino, aproximamo-nos daquela parte de nós que sabe, daquela parte da qual estamos separados. Em religião chama-se a essa parte de nós, o anjo; em filosofia aristotélica, a enteléquia ou o intelecto activo; ela é o céu do nosso pensamento, nós somos a sua terra, a terra onde se realiza a sua acção.

Tapeçaria representando as Três Parcas

O português é, dos povos europeus, aquele que melhor conhece a noção de "fado", mas deleita-se excessivamente nele, sem procurar compreendê-lo, quando aquilo que importava era precisamente que sublimasse esse sentimento no cadinho da emoção. Este é, talvez, um dos mais difíceis caminhos, é, também, um dos mais belos. Se amarmos o que nos acontece de tal modo que saibamos que foi desejado por nós, iremos percebendo também a razão de ser do nosso destino, mesmo, sobretudo, no meio do sofrimento.
De todos os acontecimentos, o mais terrivelmente fatal é a morte, a dos nossos queridos e a nossa. Mesmo a morte, a nossa morte, há-de ter sido desejada.
texto originalmente publicado no blogue Maranos

1 comentário:

  1. FALÊNCIA DO DESTINO

    O que é o destino? Ninguém sabe. Tanto pode ser uma linha descontínua, como uma árvore ou um filme com vários argumentistas e um realizador que gasta toda uma vida a aprender a realizar um livro que nunca aprendeu ou soube ler. Será o destino um mistério que nunca se desvendará perante a realidade de um ciclo vicioso ou será um software com as rotinas programadas pela nascença do nascimento que se desconhece. Este destino que transforma todo o destino que é a poeira cósmica que flutua nos segredos do Universo, é, apenas, uma migalha que alimenta a árvore que se planta na floresta da Humanidade e respira o ar que rega a seiva que ninguém domina. Será o destino a força inabalável que nos obriga a percorrer a linha descontínua de uma continuidade que se fabrica na fábrica humana dos produtos falíveis? O destino é o produto típico da falência humana! E a falência do destino é o destino português da árvore que se desenvolveu como um filme em que vários realizadores nunca compreenderam o argumento da beleza quotidiana e a infalibilidade da arquitectura humana, porque a capacidade ocular dos seus neurónios se reduziu à visão simplex de uma peça que sempre se representou no palco de um teatro falido. O que é o destino? Ninguém sabe, a não ser o actor que se perdeu no palco da vida.

    Jorge Brasil Mesquita

    ResponderEliminar