(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



sábado, 25 de fevereiro de 2012

SABEDORIA ANTIGA, 20


Os Cinco escudetes no Brasão Português

Alexandra Pinto Rebelo

É curiosa a chamada de atenção de Maria de Lourdes Rosa, na sua obra Santos e demónios no Portugal medieval, em relação ao significado dos cinco escudetes no brasão de Portugal.

Na segunda redacção da Crónica de 1344, lê-se: “E, despois que el rey e o cardeal ouverom todo seu preyto firmado, e ao tempo que lhe avia de mandar a carta, como já ouvistes, desvestyosse el rey de suas vestiduras e disse: - Querovos mostrar, dom cardeal, em como eu som herege. E entom lhe mostrou todas as feridas que ouvera em seu corpo, dizendo e assignando quantas e quaaes feridas ouvera nas batalhas e quaaes nos combates e quaaes nas entradas das villas que tomara aos mouros”.

Este episódio refere-se ao encontro de D. Afonso Henriques com o Cardeal enviado por Roma para fundamentar o seu direito ao Reino. Despindo-se, D. Afonso mostra ao Cardeal as feridas por si sofridas nas várias batalhas pela posse de Portugal. No corpo do Rei, as cicatrizes formam uma espécie de mapa sagrado do território, mitificado pelas chagas. Esta identificação mística, quase, do corpo do Rei com o Reino é a sua sacra justificação para o direito às terras conquistadas.

Ao que parece, esta versão circularia oralmente ainda em vida de D. Afonso Henriques, tendo aparecido em textos escritos de meados do séc. XIV a fins do séc. XVI. Em 1380, o Bispo de Lisboa, D. Martinho, apresenta a mesma justificação ao rei de França, Carlos V: os escudetes estão assim dispostos no brasão de Portugal, visto representarem as cinco feridas que o rei recebera no seu próprio corpo, com a mesma disposição.

A identificação do corpo do guerreiro com as suas armas é muito conhecida. Pelo menos desde a Alta Idade Média era costume, aquando da morte de um nobre (querendo isso dizer, por tradição, guerreiro), as suas armas, ou seja, o seu brasão, ser invertido, quebrado, ou ocultado por uma faixa negra. Ainda há uma dezena de anos, talvez, assisti à ocultação de um brasão que encimava a porta principal de uma casa senhorial, através de um pano preto, pela morte do seu proprietário, em Castelo Branco.

Nesta versão da história, existe uma primeira identificação bélico-mística do corpo do Rei com o do Reino. Na guerra tornada Santa, as feridas surgem no corpo de Afonso, tal como estigmas. Estigmatização obtida, não pelo êxtase, mas pela espada, prova corporal, a única, possivelmente, condizente com a classe guerreira. A segunda identificação, consistirá na representação dessas mesmas feridas no brasão.

Daqui resulta um triplo movimento: Cristo – Rei/Reino – Brasão. Mas a lógica deste movimento é um pouco diferente daquela que nos é habitualmente apresentada.

As chagas do brasão português não serão, desta forma, uma imitação directa daquelas de Cristo. Neste triplo movimento, existem elementos desdobrados ou multiplicados. Afonso será aquele que se torna eleito pela sua gesta, num acto de confirmação (ou eleição) depois da auto-eleição. O seu corpo, desdobrar-se-á, igualmente, entre o corpo-nação, mapa de batalhas físicas, históricas, e aquele coincidente com o corpo-universo de Cristo. As chagas, em escudete, terão então um duplo remetente: o do corpo físico da nação, subsumido no corpo do primeiro Rei, e o de Cristo.

Voltando ao início do movimento triplo, Cristo será, nesta lógica simbólica, também ele desdobrado: a sua quíntupla representação física, adquirida como representação de escatologia universal, projecta-se agora, em imagem e poder, sobre um reino material em particular, Portugal.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

NO PRÓXIMO SÁBADO...







COLÓQUIO “ANTONIO TELMO E A KABBALAH

Estudar e perspectivar o legado de António Telmo a partir das marcas que a kabbalah, sob diversas formas, imprimiu na sua obra é o grande propósito desta iniciativa do Círculo António Telmo, que se realiza no próximo dia 25, sábado, na Biblioteca Municipal de Sesimbra, a partir das 15 horas. O programa é o seguinte:
Oradores:

António Carlos Carvalho: Uma introdução à Kabbalah
João Pedro Secca: António Telmo e Z’ev Ben Shimon Halevi
Luís Paixão: A Gramática Secreta da Língua Portuguesa
Pedro Martins: Filosofia e Kabbalah

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

ESTRAVAGANCIAS II, 3













Os Raposões

Cynthia Guimarães Taveira


Os raposões do filme “Sonhos”, de Akira Kurosawa. Que fazem eles? Naqueles dias únicos nos quais, ao mesmo tempo, faz sol e chove, sai um cortejo de homens-raposas em ritual pela floresta. São eles os iniciadores, de uma criança que os espreita quando é proibido espreita-los. Que fazem eles para além disso? Dão alguns passos, param e olham fixamente. A única diferença é essa: olham simplesmente com a profundidade dos contos de fadas. Essa profundidade do olhar está ligada aos sentidos: o gesto como tacto, suspenso no tempo e no espaço, o som que pára em uníssono com esses gestos, o olhar que atravessa várias camadas do ser. Esse olhar é de amor. Mas não de sentimentalismo, como se existisse uma espécie de amor que, na sua essência, nasce enlaçado, misturado com a verdade. Uma espécie de verdade implacável que atravessa os seres em voos internos, deixando para trás camadas e camadas superficiais até ao cerne da própria existência.

Os outros são mistérios indecifráveis para nós. Na superfície são máscaras, mesclados de psicologias, historietas, vulgaridades, animalidades, confusões de imagens. No primeiro olhar os outros são sempre surrealistas no absurdo. Como se o que fosse verdadeiro tivesse necessidade de se camuflar em teatro.

Mas quando chove e faz sol, nesse tempo indefinível em que o fogo e a água se misturam na atmosfera, em que é fácil luzir o arco-íris, como aliança entre o visível e o invisível, esses raposões, homens de olhar apurado, saem pela floresta em ritual que é apenas a vivência do mito do próprio momento. Não há actualização do mito nesse instante porque o mito é o próprio instante em que chove e faz sol, é a actualização da actualização. Esse é o momento tradicional por excelência, porque mostra, revela, confirma que a tradição está viva no tempo sem tempo. Mostra que a Vida está viva, que o não tempo é, afinal, todo o tempo do mundo. Daí a proibição de os observar nesse instante. Toda a proibição é um convite em simultâneo, como o paradoxo de chover e fazer sol.

A Tradição, estranhamente, nesse conto, aparece como a possibilidade e a capacidade de contemplar. Mas a contemplação é já morte e é, ao mesmo tempo, a contemplação de um mistério. Um mistério mudo. Um mistério que se aproxima de nós por uma intuição tão forte que toca, literalmente, porque em corpo, a raiz da existência. Mas uma existência que é toda potência, toda essência à beira de uma explosão em manifestação. O corpo, é afinal, potência de manifestação e não manifesto ainda. É nesse limbo, nesse limiar que a exigência de morte aparece. Porque só pela morte se pode dar a manifestação. Nesse sentido, numa primeira volta, o corpo que temos é morto e só numa segunda volta se torna vivo.

Uma das formas pelas quais a Tradição se revela, se mostra, mais do que isso, regressa em Vida à vida, é pelo olhar, o real olhar, porque o olhar é o sentido de ausência (na medida em que há um esquecimento do eu) e um sentido apurado de presença no mesmo instante.

Creio que hoje poucos escutam e poucos ainda mais olham. Mas um olhar que é todo o ser projectado para a frente, para a imagem que contemplam: um olhar que vasa na imagem toda a máscara que somos, todas as camadas, todos os pensamentos, todos os sentimentos, todas as intuições que residem no coração. Um olhar que desagua como um rio no oceano da Tradição, um oceano sem dimensões por conter todas elas.

Nesse pequeno instante em que o olhar desagua, então a Tradição toma conta de nós. Adopta-nos como uma mãe. Torna-nos sua parte, seu instrumento sem a mácula do materialismo puro. Nem se poderá falar de sintonia porque não há partes dispersas nesse gesto (que é estar e ser) que acontece simplesmente. Há uma verdadeira união. Um regresso ao Uno. Um acordo, um acorde musical, um acordar, um coração a dar. Um pelicano, afinal, daqueles antigos que arrancavam do seu coração parte do seu ser, e como em pó de projecção, transmutavam outros na mesma subtileza, na mesma natureza, nas mesmas propriedades. Ouro gerando ouro em gerações múltiplas.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

NAS 101 CARTAS DE ANTÓNIO TELMO
















«A ocultação da natureza constitui um dos fenómenos mais significativos do fim de um ciclo. A palavra de Heraclito 'a natureza gosta de esconder-se' nunca foi tão verdadeira como hoje.» Se é verdade que há um aparente desejo de regresso à natureza, no entanto, diz António Telmo, esse «sentimento da natureza tem hoje duas formas: é, por um lado, o sentimento estético da paisagem ou, mais precisamente, o sentimento fotográfico da paisagem; é, por outro lado, o sentimento higiénico das forças naturais, a pele queimada pelo sol, o ar puro dos pinheiros. Nestes dois aspectos se configura o desejo de um regresso à natureza numa humanidade lassa, fabril ou febril, burocrática, vazia.» E ainda: «A expressão 'regresso à natureza' tem o defeito de poder significar uma espécie de fuga ao stress, como se o homem fosse repousar do cansaço dos dias trabalhosos ou luxuriosos no 'retiro espiritual' de uma casa de campo ou de uma barraca montada sobre qualquer praia.» Sob a aparência esconde-se algo diferente: «a verdade é que esse aspecto e outros análogos que possa assumir o 'regresso à natureza' constituem mais uma forma de cisão radical entre o homem e a terra. Onde quer que vá encontrará sempre outros homens, tão mortos como ele, numa terra morta. O que realmente importa é o encontro do homem consigo na natureza sem ninguém, do homem que por uma transmutação interior se torna capaz de um contacto efectivo com aquilo que a natureza é: o lado oculto das coisas e dos seres.» (António Telmo, História Secreta de Portugal, 129-130)

Lendo o texto de António Telmo, podemos entrever que, por um lado, o homem se coloca face à natureza e não na natureza; daí o impulso que sente de 'tirar' uma fotografia, em vez de parar para contemplar; por outro lado, parece querer apenas tirar partido, de modo utilitário, da natureza para melhorar a sua saúde corporal. Se nenhum destes dois aspectos está errado em si mesmo, no entanto, trata-se de duas manifestações inferiores da sua relação com a natureza. A saúde corporal devia ser uma consequência natural da contemplação, isto é, este movimento do espírito, sabendo ver na natureza ou através da natureza a luz arquetípica do paraíso primordial, de que o homem guarda a recordação no fundo da sua alma, deveria fluir sobre a alma como um orvalho de bênçãos e a alma, por sua vez, dimanaria estes eflúvios sobre o corpo. Como o homem perdeu a capacidade para realizar a sua relação com a natureza a partir de dentro, procura realizá-la a partir de fora apenas.

Seyyed Hossein Nasr narra num dos seus livros um episódio que ilustra de um modo muito belo aquilo a que se refere o António Telmo a propósito da ocultação da natureza: passeava um dia com o seu mestre persa Tabataba'i - sábio e santo como são necessariamente os sábios - numa bela manhã num vale nos arredores de Teerão; tinham acabado de fazer as orações da aurora. A natureza parecia ter-lhes aberto o seu segredo sagrado e dela emanava uma forte presença espiritual. O mestre disse que bastaria que um ou dois 'profanos', isto é, uma ou duas dessas pessoas que não rezam nem têm o sentimento íntimo de comunhão com a natureza, aparecesse para que toda a ambiência espiritual desaparecesse ou se escondesse. Pouco depois aparecem justamente dois indivíduos com as características referidas pelo mestre e, de facto, de imediato toda a ambiência paradisíaca desaparece, toda a beleza sagrada se oculta. O mestre, sorrindo, disse que é o que acontece quando aqueles que são estranhos (a expressão persa refere-se àqueles que não pertence ao núcleo mais íntimo da família) entram na parte mais interior da natureza. Ela fecha-se, escondendo deles o seu sagrado segredo.

O homem sabe sempre, ainda que apenas como um pressentimento no mais fundo de si, que a natureza é o templo por excelência e o lugar, se souber bem olhar, da teofania: uma realidade sacramental, hierática, simbólica, presencial. Por isso, para além do encontro consigo mesmo, referido por António Telmo, e partindo do dito tradicional (de Elêusis ao Islão) "aquele que se conhece a si mesmo conhece o seu Senhor", podemos ainda entrever outro encontro: o da criatura com o seu Criador. Seria necessário, no entanto, que o homem pudesse ainda saber-se, conceber-se, sentir-se criatura. Mas o orgulho e a filautia cegam-no, fechando-o no pequenino mundo das suas fantasias, no mundo cutural, num mundo que é já apenas uma remota criação de uma criação de uma criação ou um sonho de um sonho de um sonho. O cultural não se opõe, como falsamente se diz, ao natural, o cultural deve ser a assumpção transcendentalizante do natural - como a igreja românica prolongando sobrenaturalmente o cimo do monte, elevando-o da natureza à sobrenatureza, no movimento complementar ao da criação divina em que a sobrenatureza se 'naturaliza' ou 'mostra', por assim dizer, na natureza, pela natureza. Por outras palavras: o Criador desce às criaturas revelando-se pela natureza e o homem, criatura suprema, ascende ao Criador sobrenaturalizando a natureza, dirigindo ascensionalmente a barakah da criação.

Esta é a função sacerdotal, por excelência, da humanidade, função com que foi sacramentada desde a eternidade, mas função que cada homem, com essa vocação, deve actualizar nos sacramentos das religiões ou das iniciações, de modo a estabelecer o limite dentro do qual poderá ser pontifex sem correr o risco de profanação ou impiedade.
Pedro Sinde
Poderão consultar o blogue:

ENIGMAS, 7












(Texto pensado a partir do livro “Da Serpente à Imaculada” de Dalila Pereira da Costa, e dos fragmentos pessoanos sobre “O Caminho da Serpente”)


Para onde vai a serpente quando passa por Deus e não pára?

Cynthia Guimarães Taveira

Ela volta por um outro caminho (ou por um caminho, uma vez que o primeiro não o era, de facto) porque lá, nesse Além Deus, só encontrou Vazio e gera, em movimento triplo, um outro caminhar de uma outra substância, pois, por se opor ao primeiro, desencadeia um terceiro movimento (a lei do pêndulo possui uma terceira força motriz invisível no balançar). Esse terceiro movimento só é perceptível na ponta final (porque nele se esconde a invisibilidade da invisibilidade), quando encontra Deus, de novo. Esse último, e terceiro, passo, é Deus no seu fluir.

Aqui, fala-se no regresso da serpente ( no seu segundo movimento) quando volta após ter ido além Deus, e, sofrendo o baptismo do Vazio, volta então como Imaculada:
Conhece todos os mistérios sem os atravessar.

Não os vê como ilusão, vê-os como lei.

Não assume as formas.

Assume a substância.

Não deixa a pele largada, quando deixa incendeia o passado, subtilizando-o assim, no osso.

Tem todos os caminhos.

É ordem e iniciação.

É obediência.

Não há oposição ao universo.

Não se tenta, não se mata.

Aceita a verdade e o erro.

____________//______________


A serpente é repugnante na forma.

A imaculada é bela na forma.

A serpente é oca,

A imaculada é só substância.

A imaculada tem a consistência de todos os mistérios.

A serpente é tridimensional: o círculo e o S.

A imaculada é sem dimensão.

A imaculada pisa a serpente e resgata-lhe o osso que não tem, mas passa a ter.

A imaculada é a ordem e sistema.

A imaculada não repudia o que ama, integra-o (re-integra-o).

A serpente liga os contrários.

A imaculada não tem contrários.

A serpente inicia-se.

A imaculada é iniciadora.

A imaculada não envolve os mistérios, funde-se neles.

A imaculada, no seu gesto, é a lua nas suas faces em verdade interna e externa.

Onde parece que é igual, não é diferente.

É precisa como a ciência.

É mágica, senão mesmo a própria magia.

É alquímica porque transmutadora.

E quando chega a Deus sempre esteve n'Ele e n'Ele continua.

Continuando-O.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

POSTAIS DA ARRÁBIDA, 2














GEORGE AGOSTINHO

Na manhã clara,
mas fria,
deponho a flor
na lápide votiva.
Séria, sábia, serena,
a imagem na memória
descreve o destemor
de uma força altiva
sob a luz amena
da santidade.
Não é de outiva
a sabedoria
dessa bondade
antiga e rara
que a fotografia
marcou.
Verdade
cara, preciosa,
com ela traça
em cada dia
a estreita estrada
custosa
por que passou.
Mas só a graça,
afinal,
lhe é lei e caminho,
o som como dom
na palavra inspirada.
Tua bênção,
George Agostinho,
poeta e canção,
nome de Portugal!

13 de Fevereiro de 2012

Pedro Martins

domingo, 12 de fevereiro de 2012

AFORISMOS, 133












Eduardo Aroso

O povo que, tendo elevado a alto grau o «elemento água», na retorta histórica dos oceanos, ligando o mundo e vencendo o gélido e húmido terror do medo, não é provável que agora se alheie radicalmente desse mesmo elemento aquoso, para se sintonizar em demasia com o elemento fogo, o das convulsões pela guerra ou das acções de alavancas industriais. Na simbologia água/sentimento-imaginação, no soberano sacrifício de existir Portugal, transmudou-se alegria em tristeza («Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal!»), mas também decadência em renascença, «O inteiro mar, ou a orla vã desfeita - / O todo ou o seu nada».

No sentir subterrâneo, para onde fomos levados depois de Alcácer-Quibir, ainda é possível desabrochar na alma a potência para largar no inesperado.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

ENIGMAS, 6


















“Ao observar a via de desenvolvimento daqueles que silenciosamente e como que inconscientemente se superavam a si mesmos, constatei que os seus destinos tinham algo em comum: o novo vinha a eles do campo obscuro das possibilidades de fora ou de dentro, e eles o acolhiam e com isso cresciam. Parecia-me típico que uns o recebessem de fora e outros, de dentro, ou melhor, que nalguns o novo cresce a partir de fora e em outros, a partir de dentro. Mas de qualquer forma, nunca o novo era somente exterior ou somente interior. Ao vir de fora, tornava-se a vivência mais íntima. Vindo de dentro, tornava-se acontecimento externo. Jamais era intencionalmente provocado ou conscientemente desejado, mas como que fluía na torrente do tempo.”

Jung C. G.; R. Wilhelm, “O Segredo da Flor de Ouro - Um livro de Vida Chinês", ed. Vozes, pág. 32

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

UMA PÁGINA PARA ACOMPANHAR & UM COLÓQUIO A NÃO PERDER

  


Constituída notarialmente em 12 de Dezembro de 2011, a Associação Cultural Círculo António Telmo é uma associação de direito privado, de âmbito nacional e natureza eminentemente cultural, que tem por objecto principal a preservação da memória e do legado do filósofo e escritor António Telmo Carvalho Vitorino (Almeida, 1927 – Évora, 2010), através da evocação exemplar da sua vida e do estudo e da difusão da sua obra, e conferindo uma particular atenção à estreita ligação que este autor manteve com o concelho de Sesimbra.
Complementarmente, o Círculo tem ainda como finalidade a promoção e a difusão da cultura  artística, científica, literária, histórica e filosófica, nas suas vertentes local, regional, nacional e internacional.

COLÓQUIO “ANTONIO TELMO E A KABBALAH”

Estudar e perspectivar o legado de António Telmo a partir das marcas que a kabbalah, sob diversas formas, imprimiu na sua obra é o grande propósito desta iniciativa do Círculo António Telmo, que se realiza no próximo dia 25, sábado, na Biblioteca Municipal de Sesimbra, a partir das 15 horas. O programa é o seguinte:
Oradores:

António Carlos Carvalho: Uma introdução à Kabbalah
João Pedro Secca: António Telmo e Z’ev Ben Shimon Halevi
Luís Paixão: A Gramática Secreta da Língua Portuguesa
Pedro Martins: Filosofia e Kabbalah

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

AFORISMOS, 132 *














Na Imagem: imagens
produzidas por caleidoscópios

O autor retoma a rubrica «Aforismos» que, num total de 131, foram publicados periodicamente neste blogue, entre Setembro de 2009 e Maio de 2010.

Eduardo Aroso


Agostinho da Silva – A utopia é sopro ou semente que será fruto suculento ou reino das almas em flor.

Lima de Freitas – Toda a orla atlântica é símbolo.

António Telmo – Entre os sons do alfabeto português esconde-se a caverna de Platão.

Dalila Pereira da Costa – Todas as noites as sibilas dos tempos lhe entoam a mais antiga canção.

Pinharanda Gomes – Cada dia do calendário é preenchido com a dedicação pensada.

Joaquim Domingues – O seu pensamento vai onde deve estar.

Carlos Aurélio – As contas do rosário transmudam-se nas palavras certas do seu pensar.

Pedro Sinde – O oculto serpenteia nele.

Cynthia Taveira – Em certas manhãs surge sempre uma ave que nunca vimos, tornando o nevoeiro mais luminoso.

Pedro Martins – No mastro da razão, o mar move-lhe o pensamento no largo oceano.

Renato Epifânio – O incansável cavaleiro andante da Lusitânia universal.

Paulo Borges – O vento existe; não sabe de onde vem; e quando vai, sabe apenas que sopra.

*Este aforismo não tem o alcance de abarcar todos os pensadores portugueses. Refere-se, como é óbvio, àqueles cuja obra, por várias razões, me está mais próxima.

1-2-2012

Eduardo Aroso