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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 29

Cynthia Guimarães Taveira




A Alegria
O pintor duvida, sua, tenta, apaga, dobra-se, olha de longe, desvia o olhar. Ajusta a cor à emoção, sai de si em êxtase e agarra a alma do modelo com a amplitude de um pincel. Agita-se. Dorme, definha, não come. Não acorda a pensar nos próximos pincéis, nos próximos tubos de tinta a espremer. Arrasta-se pela casa com olhos sonolentos e dirige-se como um sonâmbulo para o quadro. Quando grita, o pincel grita com ele. Quando ama, o pincel ama mais, e quando chora cai uma lágrima de tinta. Dói o corpo todo ao artista. Não tem posição e esquece-se de todas as posições em que está. O corpo é um invólucro dorido e leve. A arte só é possível com algo de zen no paradoxo. O fogo não destrói, une. E por fim pára, o pintor, e a respiração pára com ele. O pincel desliza caindo suavemente no chão. A obra está pronta. E acontece esse momento indescritível, único, fugaz, com qualquer coisa de forte e de ligeiro em simultâneo e com a dimensão da razão inteira da existência da vida e do mundo. A obra olha para o pintor, reconhece-o e, de uma forma altamente misteriosa, transmite-lhe a alegria. Não uma alegria qualquer, do Carnaval ou do aniversário. Mas a Alegria, a verdadeira. É breve, esse momento, mas é o derradeiro voo em direcção à certeza. É nesse momento que a obra mostra estar, por fim, viva.

8 comentários:

  1. 1. Se não entende a arte contemporânea, como entende o mundo sem arte? Porque, queira ou não queira, ela, a arte, existe em todo o lado, fervilhante de energia.

    2. Se vivesse no século XIII, por exemplo, também teria dificuldade em entender a arte dos seus contemporâneos?

    3. Escoicear, escoiceamos todos.

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  2. Entender posso entender tudo. Gostar, nem por isso. Cada qual que escolha o que quer e o que gosta. Nunca vivi no século XIII, por isso não sei. Hoje faz-se muita coisa má, a arte é apenas um reflexo disso...

    Cynthia Guimarães Taveira

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  3. O que é de hoje, pertencerá, certamente, ao que será de ontem.

    Não será a sua resposta exclusiva de um certo modo de pensar fechado sobre si, incapaz de reproduzir o advento da poesia e da liberdade de espírito? Pensamento esse, pertencente a uma espécie universo cuja entrada não tem saída? De resto o seu texto sobre a alegria é de uma ingenuidade lamentável, é de alguém cuja liberdade se sentir se perdeu nas entranhas da má literatura que lhe dão a comer. O poeta, o nosso amado FP, metia-se nos copos sem alegria. Espíritos rondam, espíritos observam. Pergunto-me o que aconteceria se o George Bataille encontrasse o Fernando à saída do Martinho da Arcada?

    Afinal essa luz, que só a senhora vê, não ilumina muito, pois não, a julgar pela facilidade com que reproduz um pensamento que se pretende cheio de símbolos e cruzes canhotos, a julgar pelas péssimas reproduções de pintura realista deste blog (ah! é verdade isto da internet é coisa do Diabo, veja lá onde se mete)... faltam-lhes, às pinturinhas, um certo ar do binómio ontem apregoado: Forma/ conteúdo. Ao menos uma certa imagem de Courbet! A alegria de ter nascido.

    A arte, minha cara senhora, não é assim misteriosa. Misteriosos são os caminhos com que se enganam os tolos.

    Até breve

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  4. Bravo! A alma, finalmente, manifesta-se inquieta e inquetada. Ah, como abanam os espíritos da pátria sã quando questionados do alto da sua 5ª coluna, do alto seu império de saber. Oh, extra-vagante luz do interior que mal iluminas o pensamento que ardes e escoceias contra a arte contemporânea, o mal do mundo.

    Tenho aqui uns postalitos, comprados numas idas a águas à Cúria, com meninos a comerem cachinhos de uvas, a beberem copinhos de água termal e, muito pobresinhos, a pedirem esmolas à porta das Igrejas. Ainda que reproduções, foram, em seu tempo, todos pintados à mão. Ah! É verdade, também tenho uma colecção que me foi deixada pelo Luiz Pacheco, retratando as velhas profissões de Lisboa: o padeiro, o sapateiro, o latoeiro, o vidraceiro (todas carregadas de alma lusitana e cheias do advento moral da chama invisível que ainda hoje arde sob as pedras do túmulo do poeta), etc.. Pergunto: Interessam, para ilustrar o pasquim (entenda-se a corneta extravagante)?

    Até nunca (até à eternidade, por certo. Como é bom reconhecer um irmão iniciado!)

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  5. Como será viver com tanto ódio no coração?
    A sua intervenção é um espanto de raiva. Parabéns! Poucos foram tão longe.
    Faça um blogue só para si e deixe os outros viver em paz. Já viu? Um blogue inteiro para destilar o seu ódio e a sua falta de elegância. Nele, até poderá escolher as imagens que quiser, já viu que bom? Vá por mim, um blogue, um blogue novo onde tudo será diferente...


    Cynthia Guimarães Taveira

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  6. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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