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Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



segunda-feira, 20 de abril de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 1

Cynthia Guimarães Taveira

A Galeria
O pintor foi a uma reunião. Nada mais angustiante do que entrar nessa galeria em pausa entre exposições. Paredes brancas, frias. As galerias são desertos artificiais onde se esperam visões. Por sua vontade nunca exporia ali. Nem iria ali. Têm o sentido do deserto mas não são o deserto. O deserto é quente e as areias mudam de cor com o vento e com o sol. Por que não há galerias com plantas, veludos e sofás? Sim, com espelhos e candeeiros de luz dourada? Quem disse que assim não se veriam os quadros? Quem disse que ficariam oprimidos por outros belos objectos? Se se pinta para acrescentar beleza ao mundo porquê renunciar às outras belezas: espelhos venezianos, sofás com cornucópias em madeira, candeeiros de Lalique, plantas em ascensão, e essa luz dourada das lâmpadas em abajures confortáveis? Não será tudo arte? “Para a próxima vez exponho no deserto”, disse o pintor de si para si, “Perto do sol e do calor e aí beberei champanhe com mais prazer. Talvez, lá, tenha ideias em tons d’ouro”.

1 comentário:

  1. Errou o pintor ao ter ido a uma reunião, frivolidade pouco consentânea com a imagem do artista que, a nossos olhos, evoca solidão, evasão,originalidade, distanciamento do submundo dos negócios.
    Por outro lado, hélas, galeria rima com fria. Mas não é obrigatório. Concordo.

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