(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



sábado, 4 de dezembro de 2010

EXTRAVAGÂNCIAS, 112


Portugal
Cynthia Guimarães Taveira

Perdeste a memória
e a esperança
Perdeste a glória e o desejo
Perdeste a honra e a espada
Perdeste o mar e o sonho
Perdeste o esquadro e o compasso
Perdeste a juventude
e o sentido da diáspora
Perdeste as naus no grande mar
Perdeste a voz e o cantar
Perdeste a esmola de Deus
Perdeste o dom e o sacrifício
Perdeste os tesouros e os sorrisos
Perdeste a alma na lama
Perdeste a alegria e o sabor
Perdeste o saber e o ardor
Perdeste os filhos que hão-de vir
Perdeste a lança e o pendor
Perdeste a vitória e o dragão
Perdeste a virgem e o anjo
Perdeste a viagem a fazer
Perdeste a veste azul da bandeira
Perdeste a força da maré
Perdeste o gesto do sol posto
Perdeste o encanto do sol a nascer
Perdeste os cabos da dor
Perdeste a esperança no amor
Perdeste os poetas sem pudor
Perdeste a revolta de saber ser
Perdeste os cravos e o sangue
Perdeste Cristo nas escadas
Perdeste as escadas dentro de ti
Perdeste o rasto da serpente
Perdeste a caça ao outro mundo
Perdeste a graça
Perdeste a língua
Perdeste o escudo
Perdeste o nome
Perdeste tudo

Perdeste?

1 comentário:

  1. E PORQUE TUDO ESTÁ PERDIDO,
    SERÁ QUE ESTE CORPO FERIDO
    É UM INVENTÁRIO CONCEBIDO
    PELAS DORES DE UM FRAGMENTO
    QUE DESVIA DO PENSAMENTO
    A FLOR QUE NOS DESGASTA
    TODO O AMOR DO PRESENTE
    E NOS ENVOLVE CASTA
    NO DILÚVIO DO POENTE?
    SEI NÃO PERDER O PERDIDO
    PORQUE MESMO CAÍDO
    SOU UMA SEMENTE DA NASCENTE
    QUE ME ALIMENTA O PRESENTE.
    jORGE mANUEL bRASIL mESQUITA
    Lisboa, 06/12/2010

    ResponderEliminar