
Isabel Xavier
Quero escrever este poema
Como quem cumpre um ritual
Achar, nas palavras, a pureza
Anterior ao pecado original.
Como quem eleva acesa vela
Sobre hóstias de palavras consagradas
Saber de entre elas, aquela
Que insondável, única, bela
À luz de mistério que o vitral revela
Revele verdades reveladas.
Quero escrever este poema
Como quem cumpre um ritual
Dizer a palavra que devolva
A pureza da água baptismal.
Entre revoltas nuvens de incenso
Desvendar o simbólico local
Onde, além do Ser, além do Tempo
Se separa o Bem e o Mal.
Nas forças, orando, invocadas
Busco o primeiro sentido das palavras
Aspiro a verdades inspiradas.
Quero escrever este poema
Como quem cumpre um ritual
Descobrir, no Verbo, a beleza
Com palavras construir a catedral.
Ainda que eu não creia no chamado «pecado original», mas no Verbo original (do qual se foi abusando e, por isso, colhendo o amargo fruto), o poema leva-nos, da melhor maneira, à procura dessa sensibilidade dos tempos primeiros, quando o Ser humano se comunica conscientemente pela Palavra que não está manchada; é sagrada.
ResponderEliminarVersos muito belos da Isabel Xavier.
Eu já conhecia o poema, mas é bom olhá-lo de novo.
Saudações do
Eduardo Aroso