(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



quinta-feira, 11 de junho de 2009

OS POETAS LUSÍADAS, 17



INICIAÇÃO

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
…………………………………
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada;
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

…………………………………

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não stás morto entre ciprestes.
…………………………………
Neófito, não há morte.

Fernando Pessoa

Sem comentários:

Enviar um comentário