
A Respiração
As pausas do pincel coincidiam com um suspiro e esse suspiro era o de um universo vivo e vivente dentro do pintor. Esse universo não estava na mente mas espalhado pelo corpo e, parte dele, escapava-se-lhe e tocava o real envolvente. Era dessa mistura, de dentro e fora, que nascia a inspiração e esta nada mais era do que um diálogo íntimo entre o coração do pintor e o coração do mundo. Um diálogo matizado de azuis de sonhos, verdes de horizontes até ao fim da esperança, dourado de raios estendidos a partir do centro do artista tocando no caminho os raios de sol.
A intimidade só o era porque era secreta e invisível. Mas essa intimidade era o apogeu da extroversão, porque com ela tudo se revelava e as naturezas do pintor e do mundo, unidas numa só, levavam à explosão de um universo inteiro, novíssimo na sua verdade.
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