
(Conto Árabe)
M. Bento de Sousa
Com seu mal ninguém atina;
E é entregue à sua sorte
Pela grande medicina.
Em conselho os seus vizires
Mandam chamar os ulemas,
Os dervixes e os faquires.
Entra a moura multidão
E nas últimas tremuras
Deixa o pobre do sultão.
No Alcácer e na cidadela,
E mais o sultão se agita,
Sempre a esticar a canela.
De esfarrapado albornoz,
Papuzes cheios de lama
E bordão cheio de nós,
De muita voga entre os crentes
Que o sultão manda pôr nu
E lhe diz por entre os dentes:
Veste a camisa inda quente,
Que te dou por certa a cura
E não mais serás doente!”
E em cada tribo e aduar
Pedem um homem feliz,
Sem nunca o poder achar.
Lá muito fora de mão,
Canta ao som dum anafil
Um corcunda folgazão:
O grande teme a desgraça;
O belo chora a beleza,
Ao ver que pronto ela passa.
Mais feliz não posso ser:
Tenho tudo sem ter nada
E sem risco de o perder!” –
E, preso em seguro escolta,
É amarrado ao selim
E levado à rédea solta.
Que frio de pedra agoniza,
Vê-se que o tal felizão…
Nunca tivera camisa!...
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