(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



sábado, 31 de março de 2012

FOTO-REPORTAGEM POR FILIPE NOBRE GOMES

SESIMBRA, 31 DE MARÇO (Biblioteca Municipal de Sesimbra)
A Renascença Portuguesa: Contexto, Panorama e Perspectivas

(da esquerda para a direita) Maurícia Teles da Silva, Pedro Martins, Cynthia Guimarães Taveira, Renato Epifânio, Miguel Real

Maurícia Teles da Silva


Maurícia Teles da Silva e Pedro Martins


Cynthia Guimarães Taveira



Renato Epifânio



Miguel Real



sexta-feira, 30 de março de 2012

AMANHÃ HÁ FILOSOFIA AO VIVO EM SESIMBRA












Congeminações 2012
II ciclo de estudos em homenagem a António Telmo

O legado da Renascença Portuguesa: livros e autores


Março a Novembro de 2012
Biblioteca Municipal de Sesimbra

31 de Março, 15:00

Apresentação do nono número da revista NOVA ÁGUIA: Nos 100 anos da Renascença Portuguesa: como será Portugal daqui a 100 anos?

intervalo

Colóquio A Renascença Portuguesa: Contexto, panorama e perspectivas

Oradores:
Miguel Real – A Renascença Portuguesa: uma visão panorâmica
Maurícia Teles da Silva – O movimento da Renascença Lusitana e a música de Óscar da Silva e Cláudio Carneyro
Cynthia Guimarães Taveira – A Renascença Portuguesa e as Belas Artes – Soares dos Reis e António Carneiro

quarta-feira, 28 de março de 2012

AFORISMOS, 134













Eduardo  Aroso

Não se pode dizer que Deus não surja no caminho do ser humano. Este é que se não apresenta, como deve, ao seu Criador, esquecido da sua origem. É neste jeito de andar no mundo que o ditado popular «quem não aparece, esquece» pode ter um significado mais profundo. Quando Nietzsche propalou o seu dito «Deus está morto», vestiu a frase com a roupa do avesso.

quarta-feira, 21 de março de 2012

HÖLDERLIN PARA A PRIMAVERA















STUTTGART

A Siegfried Schmidt

                                            I

Vivemos de novo uma alegria. Já cedeu a funesta secura,
     E a crueza da luz deixou de queimar as flores.
A sala voltou a abrir-se e o jardim viceja,
     E o vale, refrescado pela chuva, rumoreja brilhante,
Alto, cheio de plantas, aumenta o caudal dos ribeiros e as asas
     Prisioneiras lançam-se de novo para o reino do canto.
O ar está cheio de seres alegres e a cidade, o bosque, está
     Repleto, toda à volta, da satisfação dos filhos do céu.
O encontro é-lhes grato e espraiam-se uns por entre os outros,
     Despreocupados, e nenhum é de menos, nem demais.
Assim o dispõe o coração e a graça de respirar foi-lhes
     Predestinada e concedida por um espírito divino.
Mas os caminhantes seguem também a direcção certa e trazem
     Abundantes grinaldas e cantos, enfeitam
O sagrado bastão com cachos e folhagem e cobre-os a sombra
     Dos abetos; de aldeia em aldeia e de dia para dia passa a felicidade,
E como carroças atreladas e animais selvagens os montes
     Avançam e o caminho suporta a carga apressando-se.

Hölderlin, Friedrich, Elegias, Assírio & Alvim edições, 1999, pág. 57


segunda-feira, 19 de março de 2012

EXTRAVAGÂNCIAS II, 4



















O Olho

Cynthia Guimarães Taveira

A vida é um sonho. Sonhamo-nos uns aos outros. Sonhamos com teias e nós bem cerrados que não são mais do que o encontro dos sonhos uns dos outros. Os sonhos, que são a vida, permitem que nos encontremos nas esquinas dos acasos. Às vezes sonhamos que estamos tão próximos uns dos outros que, não só nos encontramos, de facto, como, por fim, Acordamos quando essa aproximação se torna Encontro. Os sonhos que sonhamos, as presenças que provocamos, são afinal, formas de abrir aquele olho que “às vezes dorme”.

sábado, 17 de março de 2012

RECORDAR...ANTÓNIO TELMO













Por sugestão de Paulo Santos recordemos:


«[…] O Mesmo E O Outro
Os verdadeiros iniciados são os filósofos.[...] só a filosofia é iniciática. Se há filosofia que o não seja […] [é] a que se aprende nos livros e só neles […]

Os alquimistas, que designavam a iniciação por arte régia[...] não consentiam que o nome de filósofo fosse dado a quem não conhecesse os régios segredos da sua arte. Os súfis, que não são místicos, como confusamente se escreve e diz, mas sábios iluminados que atingiram os mais altos graus de iniciação, exigiam dos discípulos uma profunda preparação de sete anos nas sete disciplinas filosóficas, antes de os lançarem nas experiências subtis que conduzem gradualmente à epoptia, a perfeita contemplação de Deus. Tal o caso, no supremo exemplo, de Ibn Arabî. É muitas vezes lembrada a sua advertência, onde o mais venerável dos mistagogos muçulmanos afirma que filosofia sem iniciação a nada conduz iniciação sem filosofia leva à imbecilidade, advertência que, se não as identifica uma com a outra, as necessita mutuamente.

O engano neste ponto essencial teve o seu início, no Ocidente, na oposição que o Renascimento, sobretudo italiano, criou entre Platão e Aristóteles, com a intenção mais ou menos velada de atacar a Igreja Católica que adoptara o segundo como filósofo de apoio à sua dogmática teológica; e os ocultistas românticos do[s] século[s] XVIII e XIX chegaram ao extremo de afirmar que o discípulo grego representa perante o mestre grego a oposição ao ocultismo. Em termos menos secretos tal oposição surge constantemente na filosofia livresca e cultural marcando toda a diferença entre misticismo e racionalismo. José Marinho escreve longas páginas no intuito de desfazer o engano […] o racional e o irracional são limites moventes, cuja profunda relação se dá onde quer que o espírito se assume como verdadeiro pensamento.

A oposição que se diz existir expressa nos textos de Aristóteles não é entre os dois filósofos, mas entre platónicos e aristotélicos. Decorreu a cisão […] sem inspiração hermética […] sem assumir a qualidade de hermenêutica […] [como dizia Marinho:] «Hoje se tornou de novo possível, pela adequada hermenêutica dos textos, vermos filósofos […] pensarem o mesmo de diversos modos.» A teologia católica, fazendo da teologia de Aristóteles sua serva, ditou a separação, quando os seus adversários recorreram a Platão para, contrapondo-o ao discípulo, proporem formas de actividade espiritual onde o conhecimento pela fé e pela imaginação dispensa o dogma e se assume como filosofia. Aqui convém distinguir imaginação de fantasia e, sobretudo, lembrar a distinção decisiva entre fé e crença […] A fé do Evangelho, que move montanhas e que tem o seu equivalente no pensamento germânico na vontade mágica dos seus filósofos é, para o nosso pensador, traduzindo São Paulo, a garantia estável de que pode esperar-se a possibilidade de volver o íntimo e seguro olhar para tudo quanto é secreto.

Aristóteles foi, durante vinte anos […] ouvinte de Platão. Só quando este morreu, fundou escola própria, o Liceu, talvez movido por profundas incompatibilidades com os condiscípulos. De resto é o que necessariamente acontece sempre. Todo o ensino vivente, e não o ensino de uma tradição morta, vai criar nos discípulos do mestre que o transmite formas singulares e distintas de convívio com a verdade, por tal modo que, ao dar-se o desaparecimento terrestre do pólo visível desse ensino surgem divergências entre eles e até oposições onde por vezes se perderá a relação com a unidade invisível que parecia garantida pela presença espiritual do mestre, na recordação ou por processos mais elevados. Foi este, entre nós, o caso da escola de Leonardo Coimbra. Homens como José Marinho, Álvaro Ribeiro, Sant'Ana Dionísio, Delfim Santos, Agostinho da Silva, para só citar os cinco mais distintos, criaram obra própria e singular, onde está mais ou menos presente o espírito de Leonardo, mas nem sempre se têm entendido no plano da acção menos inspirada.

Se o discípulo, como se diz, tende a matar o mestre, de acordo digamos com o paradigma trágico e iniciático, é para o integrar em si e na nova ideia que lhe foi dado individualmente anunciar. O conflito, se chegar a dar-se, é sempre entre os condiscípulos. Quanto não é absurdo aceitar que Aristóteles, tendo sido conduzido pela mão de Platão aos mais altos graus da filosofia ou da iniciação, tenha esperado pacientemente longos anos pelo momento em que pôde dizer não! Só a completa ignorância do que é a filosofia, enquanto portadora de um ensino esotérico, pode levar a afirmar o que é uma rigorosa impossibilidade.

[…]

Valete Frates»
págs. 175-179 in Telmo, António, Congeminações de um Neopitagórico, Zéfiro, Sintra, 2009.

segunda-feira, 12 de março de 2012

MANIFESTO PARA OS DIAS QUE CORREM


Agora
que a soberbia e o fanatismo andam de mãos dadas na Casa de Portugal;
que o individualismo egótico se compraz no afã do proselitismo;
que quem se serve dos epigramas não hesita sequer em recorrer a núncios;
que os mestres, logo que partem, se vêem forçados a seguir, submissos, os discípulos conjecturais;
que a pretensão da gravidade hierática encobre o rigor de um clericalismo extreme;
que a estreita baia do método parece servir de corpete ao livre assomo do espírito;
que a incómoda evidência dos textos clássicos é negada até à amputação;
que se chega ao ponto de se julgar moralmente os supostos irmãos espirituais;
que se confunde a plasticidade amorável do universalismo português com a abjuração do rijo cerne da hombridade;
que um estranho modismo exótico, contrário à herança gloriosa e romântica das pátrias, aparece alçado a cânone do pensamento português;
é preciso lembrar que o fundador da filosofia portuguesa, como Álvaro Ribeiro escreveu, foi Sampaio Bruno, que a si mesmo, n’A Ideia de Deus, obra-prima da maturidade, se definia como um “jacobino”, ali onde nos lembra que as ideias, ao invés dos sentimentos, não mudam.
Falemos então de ideias, de uma tradição de pensamento sempre dedicada ao outro, que é o povo, e maiormente a nação, esse substrato da pátria portuguesa.
Falemos de uma escola – a da Renascença Portuguesa – cujos mentores (Pascoaes, Leonardo, Cortesão, Pessoa) fundaram as Universidades Populares, se opuseram ao Estado Novo, defenderam os pedreiros livres e a democracia, sofreram a prisão, partiram para o exílio, tudo em nome do povo e daquela liberdade que algum dia o há-de poder libertar.
Falemos, pois, de uma escola em permanente compromisso com a vida, facho que os continuadores, Álvaro Ribeiro e Agostinho da Silva, tão bem souberam transportar.
Falemos de António Telmo, propugnando a humildade e a atenção ao outro na sua autobiografia espiritual, esse escrito derradeiro – note-se, derradeiro – em que tão pouco entusiasmo revela perante os caminhos habituais.

Falemos de agora em nome do futuro.

Luís Paixão
Pedro Martins

quarta-feira, 7 de março de 2012

COMENTÁRIO A UM COMENTÁRIO...





A PROPÓSITO DE UM AFORISMO MEU SOBRE PEDRO SINDE E DE UMCOMENTÁRIO *

Eduardo Aroso

«Caro Eduardo: se me permite uma crítica, não me parece muito feliz o aforismo relativo ao Pedro Sinde, nem pelo aspecto do oculto nem pelo aspecto da serpente. Há nos escritos dele uma luminosidade que desoculta e uma visão certeira de um falcão que em nada lembram um serpentear... (João Pedro Secca)».
Antes de mais, pedindo licença ao autor deste comentário para reproduzi-lo, gostaria de dizer que só pelo facto da extensão da minha resposta o trago aqui. Começo por lhe dizer que, a propósito dos meus aforismos, ao verter na escrita o que vai em mim, exponho voluntariamente a minha pequenez humana. Creio que quem ousa escrever aforismos pisa sempre o terreno da dificuldade, senão mesmo da impossibilidade de, em poucas palavras, expressar a essência de uma obra ou pensamento de um autor (não vem agora ao caso a última conversa que tive com António Telmo, ao telefone, que foi precisamente sobre os aforismos de um modo geral e das minhas incursões, em particular). Prossigamos, portanto.
Não é minha intenção qualquer ímpeto de lição, sabedoria e muito menos de mestria, presumida ou assumida. Aliás, já tenho afirmado que, almejando a minha inteira realização em Deus, não sou (nem espero ser) mestre de ninguém, e ao mesmo tempo, e de certo modo, acalento a possibilidade de ser mestre de mim mesmo. Tenho tido a ventura de gostar de aprender com pessoas humildes do Povo (como diria Agostinho da Silva, aprender com analfabetos!) e com outros (que é bom de ver quais são) cuja aproximação se faz naturalmente, isto é, pelo semelhante que atrai o semelhante, no conflito dos contrários.
Mas vamos ao aforismo em causa, relativo ao Pedro Sinde «O oculto serpenteia nele». No resumo dos resumos, repare que eu não explicitei minimamente QUAIS OS MOVIMENTOS DESSE OCULTO. Como certamente sabe, na palavra oculto (tive o cuidado de não escrever ocultismo, o que poderia dar outro sentido à frase) podemos entender – sem querer ser aqui intencionalmente dualista – o bem ou o mal, e é bom lembrar que a própria Bíblia, numa conhecida expressão de Cristo, nos convida a ser «sábios como as serpentes e inofensivos como as pombas». É claro que, no caso em apreço do aforismo sobre Pedro Sinde, só podemos entender o lado luminoso, e assim sendo, quando eu utilizo a forma verbal «serpenteia», digo em potência que em Pedro Sinde há movimento, e se é serpentino é movimento de totalidade. Quando a serpente se desloca não vai em linha recta; segue ora à direita, ora à esquerda (Pessoa, entre outros, lembrou-nos bem deste importante pormenor). Porém, na analogia com o pensamento, e ao contrário do ziguezaguear caótico de qualquer corrente materialista, é um movimento que apesar de horizontal (mecânico), no plano do espírito é como que em espiral. É, assim, susceptível simbolicamente de ser um caminho de totalidade, cujo cumprimento depende apenas do discípulo. É o caminho que pode representar – ora ciclicamente, no discípulo, ou num constante assumir o que se poderia chamar via alquímica de simultaneidade – a razão e o coração; o pensador e o místico; o masculino e o feminino. Em resumo, «serpenteia», no meu aforismo, sugere movimento de totalidade. No caso de Pedro Sinde, recorrendo à metáfora, faz dele como que o caule que a seiva percorre, intensa e promissora, na certeza de haver (ou ser) primavera. É claro que, na abundante dificuldade do aforismo não pode haver farto rigor.
Nos livros de Pedro Sinde O Canto dos Seres e Teoria Nova da Antiguidade, embora sendo obras muito diferentes tanto na temática como na abordagem, há neles, sem dúvida, e utilizando as palavras do João Pedro Secca, «luminosidade que desoculta». Contudo, na tal compleição contrastante dos referidos livros não pretendo dizer que correspondem aos extremos do ziguezague serpentino.
Tomando a parte final do seu comentário, não sei se o voo do pensamento do Pedro Sinde é de falcão, de pomba ou de águia. Nisto, vamos inevitavelmente até à esfinge, talvez mais enigmática que a própria vida serpentina, pois é bem maior a complexidade constitutiva dos seus elementos. Tomando algo da simbologia da esfinge, poderá o voo de Pedro Sinde ter, por exemplo, uma asa de pomba, a outra de falcão e os olhos de águia? O futuro o dirá. Se considerarmos esta (nem tanto paradoxal) hipótese, não estamos nem a negar a esfinge, nem a anular a afirmação de Pessoa «o nosso destino é sermos tudo», nem a negar o meu modesto aforismo. O mais oculto disto tudo - isto sim, bem mais oculto – é que, a existir essa condição, só poderá haver voo numa atmosfera que lhe corresponda.
1 de Março de 2012


segunda-feira, 5 de março de 2012

CANÇÃO TRADICIONAL, JOANINA DE LIBERDADE...















As pombinhas da Catrina,
andam já de mão em mão,
foram ter à quinta nova,
ao pombal de S. João.

Ao pombal de S. João,
ao quintal da Rosalina.
Minha mãe mandou-me à fonte,
eu parti a cantarinha.

Ao passar o ribeirinho,
água sobe e água desce,
dei a mão ao meu amor,
não quiz que ninguém soubesse.

Se tu és o meu amor,
dá-me cá os braços teus,
se não és o meu amor,
vai-te embora, adeus, adeus.

Por ser o pombal tão estreito,
e asas termos pr'a voar,
nós voamos com tal jeito,
que não qu'remos já voltar.

Se alguém nos vê passar,
diz: que lindos que eles são;
nós não queremos já voltar,
mas andar de mão em mão.

Sem ter beira nem patrão,
o voar é nossa sina.
- vão andar de mão em mão,
as pombinhas da Catrina.

sábado, 3 de março de 2012

ADEUS DALILA












Devo-te a vida

Cynthia