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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 15

Cynthia Guimarães Taveira


O Equilíbrio
Da mesma forma que a linha da loucura acompanha, paralela, a linha da vida de um pintor, tocando-a, por vezes, também o desequilíbrio das formas, das cores, são nuvens negras, ameaçadoras, no horizonte. A pintura dada em directo numa televisão pode ser uma experiência trágica. Aquele pintor criava um retrato de Camões em directo. O artista pintou exaltado um poeta cheio de força. Uma força primitiva, até no acto da própria pintura. Chegado ao ponto de perfeição só se podia sorrir perante e exactidão da última pincelada. Mas não era a última. Numa acção, inexplicável, o artista pincela, com o azedume da tinta preta, vários traços que fazem desaparecer o rosto forte daquele Camões. Num ápice a criação havia passado a destruição, a arte perene era apenas efémera. Os humores dos artistas são caminhos tortuosos cheios de esquinas escuras, inesperadas e pulsões contraditórias. A arte nasce no efémero e caminha para o efémero, só no meio é intemporal, só a meio caminho se detém e aí permanece, suspensa, sempre, até ver. É esse equilíbrio súbito que faz saltar o coração, e é nesse equilíbrio breve que nasce, enfim.

1 comentário:

  1. AS CORES DA LOUCURA CRIATIVA

    As loucuras são as cores de um pintor que é feito de agilidades, mesmo quando as usa para se destruir a si mesmo, destruindo a sua criação que é um vapor sem limites de tempo e de percursos, que tanto podem ser pinceladas de equilíbrio, como pinceladas desequilibradas de humores coloridos ou de caminhos tortuosos a preto e branco que são a noite e o dia da destruição ou da criação do que nasce efémero ou morre efémero. A verdadeira loucura do pintor é transformar cores mortais, na imortalidade colorida do seu génio criativo, expondo aos olhos do mundo a capacidade de compor as cores que absorvam todo o complexo sensitivo que invade as suas correntes sanguíneas que são os verdadeiros poderes da sua loucura criativa.


    Jorge Brasil Mesquita

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