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terça-feira, 9 de junho de 2009

PESSOA E OS OUTROS, 2

Resposta ao inquérito
«O mais belo livro dos últimos trinta anos»

A grande desvantagem estética do seu inquérito é ser a resposta tão fácil que nem podemos ter o prazer de duvidar da nossa sinceridade. Uma obra destaca-se tão afastadamente das outras que nem vale a pena fingir que temos hesitação na escolha. Mais vale confessar sinceramente que achamos valor a um contemporâneo.

Posto isto, chamo a atenção das pessoas criticamente competentes (a sua existência entre nós é uma hipótese da minha delicadeza) para o facto evidente de que a Pátria de Junqueiro é, não só a maior obra dos últimos trinta anos, mas a obra capital do que há até agora de nossa literatura. Os Lusíadas ocupam honradamente o segundo lugar.
Não há infelizmente dúvidas. – A Pátria sobreleva Os Lusíadas, 1.º, na perfeita organicidade e construção, na unificação e integralização dos complexíssimos elementos componentes, 2.º no poder puramente visionador e imaginativo, 3.º, na elevação, intensidade e complexidade do sentimento patriótico e religioso. E se Os Lusíadas vencem na sóbria solenidade da sua linha estrutural, a Pátria compensa-o com a sua superioridade no que simples poesia e pura forma. Posso mesmo acrescentar que, a meu ver, a Pátria forma, com o Fausto de Goethe e o Prometeu Liberto de Shelley, a trilogia de grandeza da poesia superlírica moderna.
Fernando Pessoa
(publicado em República, de 7 de Abril de 1914)

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