
Baile do ministro inglês, em Sintra: No verão de 1892 dava o ministro inglês uma festa pomposa em honra do Snr. D. Carlos. Sua majestade aceitou-o. O ministro inglês, naquele instante, era a Inglaterra. O soberano de Portugal era a nação portuguesa. Pois o rosto que levara a bofetada sangrenta ia ver-se aos espelhos do animalejo que lha dera! Ia limpar os escarros ao guardanapo de quem lhos atirou!
Um rei que a fatalidade inexorável, que o destino impiedoso submetesse, algemado, a semelhante vergonha, choraria de raiva lágrimas de sangue, a não guardar no íntimo da alma, como D. Carlos, o retrato de D. João VI, num pataco falso. Desejaria eu ver, em lance de tal ordem, a grande e melancólica figura de Pedro V. Que trágica altivez e que dorida nobreza não exprimira o seu olhar! E D. Carlos? D. Carlos, em toda aquela noite pavorosa jogou descuidadamente o bleuff, espécie de batota, com dois casquilhos elegantes do mundanismo que se diverte. Verifiquem, lendo o Jornal do Comércio, que relatou o baile. Acrescento mais: quem o relatou assistiu a ele.
Dissolução das cortes. Primeiro golpe d’estado: O Snr. D. Carlos, um belo dia, farto de atirar às perdizes, alveja à queima-roupa o código político da nação. Com que fim? Salvar-nos, salvar a pátria. Era a vida da pátria, que, em risco iminente, o constrangia à ditadura. Espezinhava os códigos, para manter a nacionalidade, sacrificando (com que mágoa!) o juramento do rei à existência do reino.”
Guerra Junqueiro, in Pátria, 1896
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