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quarta-feira, 23 de junho de 2010

«SINGULARIDADES», OS EXCERTOS, 11

Uma nota a «O Conto de Amaro»


Pedro Sinde


N’O Conto de Amaro diz-se que há um paraíso na Terra. Não é
ainda o paraíso celeste, mas o ponto máximo que ao homem é dado
atingir nas condições em que aqui vive: o tempo e o espaço. Por isso
o paraíso na Terra tem ainda espaço e tempo, mas é um espaço muito
subtil que contrasta com o grosseiro da matéria, é um espaço em que
a plasticidade da matéria é muito parecida com a dos sonhos; por
outro lado, o tempo tem um tipo, uma qualidade de duração muito
diferente, a sua estrutura ontológica também é outra. É um tempo já
muito próximo do eterno, se fosse possível aproximar qualquer tempo
à eternidade; em todo o caso um dia lá são centenas de anos cá. De
algum modo se poderia dizer, portanto, que o paraíso na Terra é um
estado intermediário entre o cá e o lá.
O homem nunca se satisfez com a ideia de que o absoluto não se
relacione com o relativo e, por isso, por muito absurda e antinómica
que uma tal relação pareça à razão, é a própria razão que impõe como
necessária essa relação. Dada a relação como evidente trata-se pois de
desvendar o modo, a estrutura ontológica segundo a qual ela ocorre.
Este conto medieval narra a história de um homem, Amaro, que
tinha um só desejo: ver o paraíso terrenal. A toda a hora ele procura
apenas isso, a simples ideia de um paraíso na Terra é demasiado fascinante para que lhe possa resistir. As suas orações diárias não têm outro fito senão o de pedir a Deus que lhe conceda em vida a visão do paraíso terrenal.
Uma noite, cismando com o paraíso, Amaro ouve uma voz que
lhe diz:
“Amaro, Deus ouvyo a tua oração e quer comprir o teu rrogo e
desejo. Vay te a[a] rrybeira do mar e nõ digas a nenhum nenhua cousa de teu feito ne pera hu vaas. E mete te e hua nave e vay te hu te Deus quyser guyar.”

(...)

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