(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



quinta-feira, 8 de abril de 2010

AFORISMOS, 27

Eduardo Aroso

111 – «Onde a terra se acaba e o mar começa». Lido num sentido que não seja apenas o da geografia, poderá ser o lugar feito outro tempo. Se aqui é finisterra da Europa, o seu «quase cume da cabeça» e sendo Portugal a coroa do velho continente, no desenho do alemão Heinrich Bünting (séc. XVI), o que está acima (além) da coroa já não é corpo, mas espaço-espírito ou as Indias Espirituais. Além da terra, ou «onde a terra se acaba» é o mesmo que dizer além da carne.

mapa de Heinrich Bünting: clique na imagem para a ampliar

112 – A força do invisível sobre o visível, o templo de Apolo na Grécia Antiga e os partidos políticos e outras agremiações de agora: num, ombreava o pórtico a vetusta e alentadora frase Conhece-te a ti mesmo; nos outros parece haver uma invisível e silenciosa advertência - Aqui deixas de pensar por ti, e assim nunca a ti nem a outros conhecerás!

113 – Se Pascoaes nos diz de onde viemos, Pessoa indica-nos para onde vamos. Apesar da aparente direcção contrária, os dois participam no único movimento, aglutinando passado e futuro, convergindo para a mesma realização. Pascoaes, poeta das Sombras, nunca poderia sê-lo antes de D. Sebastião, quando mergulhámos numa obscuridade subjectiva. Pessoa só poderia existir depois da decadência da última dinastia, a dos vários monarcas que já nem sabiam andar a cavalo, e de uma república que violenta e rapidamente expurgou o melhor do espírito português.

Quando um objecto se interpõe no caminho da luz, projecta uma sombra directamente proporcional à intensidade da fonte luminosa. Se o poeta de Amarante é o bardo da saudosa mas prometedora ausência, o vate do «mar salgado» é o profeta de um futuro que realizará o inconcluso passado.

3 comentários:

  1. e no mapa a África parece erguer-se ao encontro, para que a Filha do Homem tenha um lugar onde reclinar a cabeça (Mateus 8:18)

    ResponderEliminar
  2. O 113 é uma frecha no alvo. Há quem goste, e dentro da Filosofia Portuguesa, de alimentar guerrinhas Pascoaes versus Pessoa... Nada faz mais enfado. Somos de ambos, e o aforismo é de grande justiça.

    Destaque n'O Bar.

    Abraço lusitano!

    ResponderEliminar