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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A PONTA DO VÉU, 4

Diálogo. Ou de como a filosofia portuguesa, partindo de aspectos comuns, pode con-versar com distintas orientações de pensamento, preservando, todavia, com serenidade e firmeza, o que lhe é próprio – eis um entendimento possível para a reflexão – Repensar o Problema da Filosofia Portuguesa – que Elísio Gala nos propõe no primeiro número dos Cadernos de Filosofia Extravagante, e da qual revelamos agora os parágrafos iniciais.
Elísio Gala nasceu em Lisboa em 1965 e formou-se em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa, leccionando presentemente esta disciplina na Escola Secundária do Redondo. É autor de diversas obras, entre as quais destacamos As Linhas Míticas do Pensamento Português (coordenação, com Paulo Samuel, das actas do colóquio, Fundação Lusíada, 1995), A Filosofia Política de Álvaro Ribeiro (Fundação Lusíada, 1999) e Santo Agostinho na Cultura Portuguesa – Contributo Bibliográfico (com Joaquim Domingues e Pinharanda Gomes, Fundação Lusíada, 2000). Traduziu e anotou para a Guimarães Editores o Fédon e A República, de Platão, contando ainda este último diálogo com um prefácio da sua autoria.
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REPENSAR O PROBLEMA DA FILOSOFIA PORTUGUESA
(Álvaro Ribeiro, José Marinho e o Padre Manuel Antunes)

O título escolhido para encabeçar esta reflexão decorre de uma constatação e de uma associação. Começando por esta última, quais os elementos explícitos ou implícitos desta associação? Explícitos são os títulos da obra de ensaios “de reflexão e de prospecção” denominada Repensar Portugal da autoria do Padre Manuel Antunes e da obra de “natureza programática e didáctica” de Álvaro Ribeiro intitulada O Problema da Filosofia Portuguesa. Implícitos, são os artigos do Padre Manuel Antunes «Haverá Filosofias Nacionais?», «Da situação da Filosofia», «Filosofia da Cultura: sua necessidade»; de Álvaro Ribeiro «A Filosofia Portuguesa não é como a de outros povos na Europa moderna e obriga-nos a difíceis e demoradas investigações históricas», «O problema da Filosofia Portuguesa perdeu já a actualidade»; e de José Marinho «Filosofia Portuguesa e Universalidade da Filosofia». Eis o horizonte de textos e reflexões que nos suscitaram o título.

A constatação que inspirou a titular deste modo esta reflexão foi a repetida insistência por alguns publicistas e literatos, de uma frase do Padre Manuel Antunes que responde, segundo eles, de modo conclusivo ao problema da existência ou não de filosofias nacionais. A resposta resume-se na seguinte frase retirada do artigo «Haverá Filosofias Nacionais?»: “se é nacional não é filosofia e se é filosofia não é nacional.” O alvo das suas críticas é sempre Álvaro Ribeiro, tão pouco lido e meditado quão injustamente tratado. Ora, quanto a nós, o problema formulado pelo Padre Manuel Antunes tem mais o carácter de uma interrogação, do que o de uma pergunta. Para as perguntas há respostas, o que já não sucede com as interrogações. Embalados e adormecidos na resposta esquecemo-nos da interrogação. O pensado é substituído pelo achado. “Acho” que não há filosofia portuguesa, eis o que exprimem as afirmações de tais publicistas e literatos, que em boa verdade há muito deixaram, ou mesmo nunca pararam, para “pensar” se há filosofia portuguesa. Quanto a nós, o Padre Manuel Antunes manteve viva a interrogação, como se pode depreender pelo título e conteúdo da obra Repensar Portugal. Eis o que pretendemos demonstrar.

(...)

Elísio Gala

1 comentário:

  1. Gostaria de ver abordado o recente anúncio na comunicação social que professores do 1º e 2º ciclos, de Espinho vão leccionar, por opção, filosofia aos seus alunos. Obrigado.

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