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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 24

Cynthia Guimarães Taveira




A Vida
Foram precisos muitos anos para reparar nele. Ao fim de inúmeras repetições ele foi-se revelando. Havia um padrão escondido ao longo da sua vida. Tão forte como o sussurro do olhar. Em momentos difíceis, psíquica ou fisicamente, dava por si a olhar um quadro. Qualquer que fosse. Pendurado na sua sala ou pendurado numa loja de decoração por onde passasse. Olhava sem ver. Olhava sem dar por isso. Até que um dia, num momento de angústia, depois de lhe faltar o ar, olhando numa montra uma paisagem mal pintada, se lembrou das outras vezes em que tinha feito o mesmo. Percebeu que tinha criado um símbolo interior, despropositadamente. Um quadro, qualquer que fosse era a própria vida. Onde quer que estivesse. Um balão de oxigénio no qual penetrava e no qual se salvava. Percebeu a importância da pintura na sua vida. Enquanto a sua pintura já tinha percebido há muito a importância dele. Apenas com ele passava existir. Sempre existira uma dependência silenciosa entre ambos.

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