(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

EXTRAVAGÂNCIAS, 94



[As duas colunas]*
António Telmo

O insigne filósofo José Marinho, numa belíssima subtilíssima reflexão sobre a obra de Sampaio Bruno, caracteriza-a por este modo: “obra demasiado estranha porque excessivamente familiar – num sentido celeste, noutro sentido bem terrena – traduz com o autor uma família de espíritos da mais remota ascendência a daqueles cuja inspiração mítica, cujo logos formador não está no radioso Apolo, na clara luz solar, mas no divino oculto, nas constelações invisíveis”.
Aquele cujo logos formador está no radioso Apolo, na clara luz solar, é Leonardo Coimbra. Assim, mais adiante: “A luz que orientará Bruno não será, como em Leonardo Coimbra, a luz do claro sol. Sua inspiração vem de longe, não da luminosa tradição teológica e filosófica, mas da tradição secreta. Por isso, não é fácil imagem de adorno falar a propósito de Bruno das “constelações invisíveis”.
Sampaio Bruno e Leonardo Coimbra aparecem-nos assim como dois vigilantes, dois espíritos despertos, um na coluna obscura do Norte, outro na coluna luminosa do Sul levantando o templo da filosofia portuguesa. Álvaro Ribeiro preferiu falar em duas escolas: “A escola portuguesa de filosofia que Leonardo Coimbra fundou em reacção contra o positivismo dominante no primeiro quartel deste século (o século vinte), tem de comum com a escola, também portuguesa, de Sampaio Bruno a reivindicação do primado da teologia sobre as ciências especulativas”.

(…)
____________
* [Nota do editor] De um fragmento inédito. O título é da responsabilidade do editor.

1 comentário:

  1. Estas duas tradições em Portugal têm outros equivalentes (não uma relação directa) em organizações como, por exemplo, a Maçonaria (embora a simples palavra seja muito vaga para o significado que se queira) ou a Opus Dei.

    Mas não se infira que estes insignes pensadores sejam “doutrinadores essenciais ” destas organizações.Repito, portanto, que a relação não é directa, tal como a luz da lua, sendo a do sol, não deixa de ser também a luz do nosso satélite. Luz única sim, mas o luar não é o sol a pino, nos seus efeitos sobre a Terra e seus habitantes.

    Há um terceiro caminho, e neste a coluna que faria a tríade não pode obviamente, na imagem física, ser obstáculo entre as duas de suporte. Assim, a terceira é, digamos, mais invisível e tendo outra missão. Tal como o ponto central da parte superior da «porta manuelina», a sua acção oculta, só pode estar em cima, ou seja, “segurando” as outras duas colunas ou tradições, sem impedir que estas, assentes como devem estar, cumpram o seu papel no mundo. Na tradição cristã, as duas colunas que António Telmo refere só podem ser a Igreja de Pedro (exotérica) e a Igreja de S. João (esotérica), a dos Templários.

    Para terminar este comentário, gostaria de dizer que a mim me parece que a Ordem Sebastianista ou Ordem da Serpente, de que Fernando Pessoa nos fala nalguns escritos, é entre nós – digo do PORTUGAL QUE FALTA CUMPRIR – esse terceiro caminho.

    Eduardo Aroso

    ResponderEliminar