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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 31

Cynthia Guimarães Taveira




O Voo
E havia aquele espaço em que o corpo imaginado ganhava uma forma real quando o artista o encarnava e o fazia estremecer num primeiro instante de vida. Sempre leve esse corpo, etéreo como as nuvens e voava deslizando numa ternura pela superfície do planeta. Aí já não era a pintura que importava, mas uma outra vida. A vida dos deuses capazes de moldarem a ilusão do mundo com um sopro, um virar de cabeça, um gesto voluntário das mãos. Como se este fosse o propósito último da pintura: encarnar corpos leves, poderosos e absolutos, enfim consagrados a todos os reais possíveis, inesgotáveis, susceptíveis de serem criados apenas pela vontade. Como se a vontade fosse o primeiro e derradeiro instrumento da criação, e tudo se resumisse a ela, sem barreiras do pensamento, do símbolo, da preocupação com a estética, por tudo isso já conter em si. Uma essência essencial da própria vida, o grão de mostarda do imanente.

2 comentários:

  1. Ao Senhor Jorge Mesquita:

    O "No Coração da Arte" está quase a chegar ao fim, faltando poucos textos. Ao longo desta viagem que se queria, não pela teoria da arte, mas sim pelo coração do artista, um pássaro acompanhou todas as palavras. Esse pássaro chama-se Jorge Mesquita. Um pássaro fiel à leitura e cujos comentários nunca se desviaram do bom gosto, intuindo facilmente os limites que o comentário deve ter. Surpreendia-me muitas vezes quer pela capacidade criativa tida a partir das palavras dadas quer por discordar, por vezes, indo mais além no texto, tornando o círculo em espiral. Nunca comentei nenhum dos seus comentários porque não queria estragar um equilibrio que parecia nascer naturalmente. Como se dois pássaros cantassem e, assim, construíssem uma melodia. Muito obrigada pelo seu contributo a este blogue.

    Cynthia Guimarães Taveira

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  2. Apesar de não ter comentado os seus textos (à excepção de um deles, creio eu), por não ter formação em artes plásticas, ainda assim quero dizer-lhe que senti muita poesia desprender-se de um correr da pena de quem, obviamente, tem conhecimento de arte.
    No mundo em que vivemos, quando deparamos com o facto de em N. York um “artista” ter ficado muito bem visto pela crítica ao colocar um leitão em formol num paralelepípedo envidraçado, para gáudio de todos (coisa que lhe valeu quase cem mil dólares!!!), então ler estes textos é uma consolação para a alma e a certeza de que o futuro da arte, para ter vitalidade, só pode mergulhar (não sei como será o mergulho) nessa mesma eterna alma humana.
    Com os meus cumprimentos
    Eduardo Aroso

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