(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

EXTRAVAGÂNCIAS, 83



Mortes

Pedro Martins

Miguel Real já tinha escrito, há não muito, um livrinho intitulado A morte de Portugal. Veio, agora, anunciar A morte da ‘Filosofia Portuguesa’, num artigo de imprensa que, por coincidência, ou como sinal, saiu a lume quatro dias depois de António Telmo ter partido deste mundo. Bem intencionado que sou, terei de admitir que a proximidade dos dois acontecimentos ficou porventura a dever-se à observância de um critério editorial infeliz da parte de quem, há muito, dirige um jornal com poder, mas sem alma.
A despeito da fúria lusicida que vem revelando, a Miguel Real foi, segundo parece, concedida a distinção, nada despicienda, de falar publicamente numa sessão de homenagem a António Telmo, a ter lugar, a título póstumo, na Biblioteca Nacional, no próximo dia 16 de Setembro, por ocasião do lançamento de O Portugal de António Telmo, sorte de legado espiritual que nos foi deixado por aquele que nunca hesitou em proclamar-se, com todas as letras, nestes tempos do fim, como “nacionalista místico”, em reiterado exercício de fidelidade ao magistério de Álvaro Ribeiro e José Marinho.
Dito isto, desengane-se desde já quem me puder supor entre aqueles que antevêem para Miguel Real um caminho árduo e estreito, desenhado como um dilema pelas sombras da hipocrisia e da hostilidade (e a memória aviva-me exemplos), na sessão a haver no Campo Grande. Não. O mais provável é que o plumitivo, ao que me dizem pessoa afável e cordata, venha, uma vez mais, a enredar-se no labirinto da sua imensa incompreensão.
Por muito que a alguns possa custar, pôr entre comas a Filosofia Portuguesa, como ontem o fez Real, não permite, de modo nenhum, significar que ela esteja comatosa (ou moribunda, ou defunta). Nem o seu estado de saúde pode, de resto, relevar do concerto enfatuado de umas quantas vontades. Nisto, como em tudo na vida, vale o velho dito de sabor judaico que manda conhecer as árvores pelos frutos. A colheita é sempre, e só, no futuro – e o mais é com Deus, verdades que desconheço se Miguel Real estará em condições de aceitar.

4 comentários:

  1. O artigo em causa defende teses das quais discordo por inteiro (já o disse ao próprio autor), mas, gostaria aqui de dizê-lo, a "oportunidade" da sua publicação foi absolutamente alheia à vontade do Miguel Real.

    ResponderEliminar
  2. Nos anos 80, no Grupo da Filosofia Portuguesa, o ar era limpo (sei do que falo, respirei-o, antes de o nariz me guiar para uma ilha do espírito em que a pureza dos mortos renova os ventos). Faleceu António Quadros e o ar começou a ficar pesado. Faleceu Agostinho da Silva e o ar começou a ganhar um cheiro a tachos sujos e requentados. Agora, com o falecimento de António Telmo, começa-me a chegar um hediondo odor a fétido. Espero que ainda haja ânimo para abrir, inequivocamente, as janelas.

    Um abraço a todos.

    ResponderEliminar
  3. É inacreditável como nem a gravidade da morte cala certas vozes e as apreciações (olfactivas?) a que se dedicam.

    Há modos mais dignos de alguém se pronunciar. Além de que a própria memória de António Telmo e o amor que ele dedicou aos seus amigos deviam ser alvos de um mínimo de respeito!

    - Isabel X -

    ResponderEliminar
  4. Caros amigos,

    penso que não vos falta argúcia - mas do meu conhecimento fundo das lides blogueiras e informáticas, quero alertar-vos que estão a ser alvo de comentários maliciosos, de perfis falsos, que para nenhum lado remetem, e, decerto, da autoria da mesma criatura vivente, ou sobrevivente.
    Acerca dos motivos, sei que não precisam de esclarecimentos meus - e não voltarei a este assunto (mas a «alma errante», decerto).

    Os melhores cumprimentos.

    ResponderEliminar