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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

AFORISMOS, 1

Eduardo Aroso

1 - Inês de Castro só depois de morta reinou para sempre. E Portugal? Degolado pela inveja (última palavra de Os Lusíadas) no seu verdadeiro amor, não será também pátria, mito e arquétipo, só depois da fatalidade, ocorrida ou ainda a verificar-se? Ergamos-lhe o território sem delimitações de alma; o trono assente no coração do povo; na representação dos hemiciclos, ou ciclos da verdade, em discussão universal.
2 - A saudade é o milagre do concreto. Lembrar-se é ser arrastado para a verdade de algo que já foi, ou de um dia longínquo ainda, e que se sabe ser também certo.
3 - “Portugal”. É com aspas que se tem lavrado o nome, no sagrado solo do decorrer do tempo. Retiremos as aspas com que se tem escrito Portugal. Elas não vêm de cima, do céu, mas dos térreos baixios, como as ervas daninhas e musgosas que sobem pelas paredes dos espaços abandonados onde não habita viva alma.
4 - A ciência - a materialista, entenda-se - é uma mística iludida. A moderna obsessão dos nossos governantes pelas estatísticas é uma espécie de remorso pela falta de virtudes.
5 - O conjunto de todos aqueles que pensam a pátria é, sem necessidade de demonstrações históricas, o Portugal virtual ou aquele que ronda o arquétipo. Por isto se deduz, pela via contrária, que na sociedade actual possa haver o Portugal efémero.

5 comentários:

  1. FORAGIDO

    Portugal é um cemitério de civilizações poéticas, alagado com poemas que fecundam alergias e pandemias de Gripes A, desde a sua caverna, até às procissões visuais da Net. A poesia é o esconderijo de muitas memórias que transformam Portugal no sequestro das mais valias. No mercado das acções, onde as palavras são vendidas ao preço da chuva, o reino que Portugal foi e a República que é, foram e são malabarismos de arte mal cheirosa. As Caravelas que levaram erros e trouxeram sortes, são os TGVs de hoje que nascem por engano e levam às fronteiras dos nossos custos, os poemas que se esqueceram do sal e da pimenta, para arquivar nas memórias dos defuntos, os cativos do pós-modernismo Atlântico. Eu, que sou ninguém, limito-me a ser um foragido da Atlântida, onde quer que ela viva.

    Jorge Brasil Mesquita

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  2. Muito gratos ao Bar do Ossian e à Nova Águia...

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  3. Caro Jorge Brasil Mesquita,

    para nossa provação a Atlântida está bem viva, ou pelo menos do fundo dos seus abismos sopram miasmas. E nos promontórios das Finisterras tantos de nós descreram nos barcos.

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