(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



domingo, 26 de abril de 2009

EXTRAVAGÂNCIAS, 16

Carta de Abel de Lacerda Botelho a João Tavares, sobre os Cadernos de Filosofia Extravagante

Lisboa, 13 de Abril de 2009

Exmº. Senhor
Dr. João Tavares
Serra d’Ossa Edições
Rua 5 de Junho, Lote 160
7160-216 VILA VIÇOSA
Exmº Senhor
E Meu Caro Amigo

Recebi hoje, a oferta dos dois exemplares dos “Cadernos de Filosofia Extravagante” que mui amavelmente me enviou, e que penhoradamente lhe venho agradecer.
E ao mesmo tempo, venho felicitá-lo como Editor, e ao Grupo de Autores por mais esta iniciativa cultural – tão necessária nos tempos que correm – e que é demonstrativa de que a Filosofia Portuguesa vive, está de boa saúde, e até se recomenda que seja tida em atenção pelos “débeis de espírito” que infelizmente nos desgovernam a educação e a cultura lusa.

Faço sinceros votos de que esta “semente” lançada em terra de Além do Tejo frutifique e dê 100 por um, pois a “terra é boa” e os “agro-cultores” que dela tratam são genuínos e autênticos o que, e por isso mesmo, avalizam e são garantia de “bons frutos” – e mesmo que “frutos extravagantes”, sejam eles.
Bem hajam. Continuem, e sinceros votos e profícuo labor.

Mesmo quanto ao título encontrado para título da Revista: “Cadernos de Filosofia Extravagante” eu vos felicito também, não só por se adivinhar que o possível “padrinho” tenha sido o António Telmo, na esteira do Agostinho da Silva, como na verdade a “nossa filosofia Portuguesa” se enquadra perfeitamente no epíteto de “extravagante”.
Pois a palavra “extravagante”, para além de poder ser sinónimo de “estroina” ou de “perdulário” como é focado e bem na vossa “Apresentação”, ela é também sinónimo de “Extra-vagante” isto é: “algo que vai além de, que ultrapassa, que supera, que é mais que somente “vagante”. Vagante, neste sentido, é o viajante “sem caminho”, aquele que “anda” no “vago”, aquele que viaja vagando, ou que “vagando” caminha, e viaja ao sabor da vaga.
O que viaja, ao sabor e à ordem da vaga, o vagante, é por si mesmo, o eterno conformista, que néscio ou conscientemente se deixa arrastar pelo Destino, pelo Fado (Fatum-i), num total determinismo apático, inodoro e insalubre.
Ora o Extra-vagante, é o vagante que usando a sua vontade, e mais a sua força ou energia intelectiva, enfim: usando o seu livre-arbítrio consegue fazer face, opor-se, contradizer o “vaguear”. E mesmo que “afinal” venha aceitar o jugo determinista, o faz com pleno desejo sofredor.

Há mais de 4 (quatro) décadas até hoje, venho insistindo privada e publicamente, e a nível nacional e internacionalmente, em alguns areópagos culturantes, que a cultura e a Filosofia Portuguesa, não é melhor, nem pior, do que a de qualquer outro Povo, ou civilização. O que ela é – é verdadeiramente diferente da dos outros Povos!
E por que é que ela é diferente?
Porque aqueles que a “pensam”, que “a cultivam” sendo uma síntese da Paideia do Povo que a cria, a pratica, que a vive, estão no mundo, não como “vagantes” mas sim como “extra-vagantes”.

Comungo pois inteira e completamente, com o título que encontrastes para nome da Vossa Revista, a que uma vez mais auguro os melhores êxitos.

Vosso Irmão na Defesa e Divulgação
Do Pensamento Português

Abel de Lacerda Botelho

2 comentários:

  1. A carta foi uma viagem compensadora... ainda há quem saiba escrever Português.

    Que os bons deuses do chão e do ar protejam os vossos projectos.
    Abraço lusitano!

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  2. Ficamos muito gratos pelos vossos votos.

    Saudações extravagantes!

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