“Fernando Pessoa era poeta e filósofo, ouvia dentro de si as falas do diálogo eterno. Era também um profeta. Não foi arrancar a realidade portuguesa às trevas do inexistente, com a candeia de historiador ou de passadista: viu-a imediatamente, de olhos erguidos para o Céu, à luz brilhante dos mitos.”“A poesia de Fernando Pessoa começou já a ser estudada, e o poeta, desconhecido pelo grande público durante a vida inteira, tem hoje o preito das moças gerações. Os escritos filosóficos não têm sido considerados com igual atenção; são, porém, outras tantas obras-primas de uma inteligência penetrante que não se detém perante os mistérios da alma e os segredos da cultura. Um estudo revelará mais tarde a unidade de pensamento de um escritor que se dissocia em vários heterónimos; à primeira vista o que bem impressiona é a variedade, e portanto a riqueza, dos pontos de vista que Fernando Pessoa sucessivamente adoptou, deliciado talvez com o espectáculo de incompreensão que lhe davam os contemporâneos. (Leonardo Coimbra, pelo contrário, sofria com as manifestações de intolerância e de desinteligência dos seus conviventes).”
(excertos retirados de Prefácio a A Nova Poesia Portuguesa, de Fernando Pessoa, Dispersos e Inéditos, I, INCM, 2004)
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