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terça-feira, 15 de setembro de 2009

A MINHA CARTILHA, 3

XXIV
O dogma inabalável do Cristianismo é o da consubstanciação, a presença real de Cristo na Hóstia, ou a do Santo Espírito na matéria. E a nossa alma não está no alimento do seu corpo?
O espírito é na matéria, sem deixar de ser em si próprio, num outro plano desconhecido ainda, para lá da existência e da vida, sendo ele, como é, incompatível com o existir e o viver.
Quando a nossa inteligência penetrar nesse terceiro plano, alcançaremos a ciência total, perfeita. E no encantamento da Luz Plena, ficaremos para sempre…
Se falo desse terceiro plano, é que o pressinto, mas como um cego de nascença pressente a luz, não por intermédio dos olhos, é claro, mas talvez do tacto, que a luz é um fenómeno de choque. Esse choque nos nervos de um cego, fá-los vibrar do modo mais subtil. E tal vibração se lhe ilumina intimamente até ele imaginar que vê a luz. E é como se visse quase…
E a verdade do baptismo! O ser vivo é de origem aquática. Um beijo de luz na água, e eis a aurora da vida… E a vida é alma, e a alma descende do Espírito que pairou sobre as águas… E é sempre em nós, a sua aparição maléfica e benéfica, ou dois espectros, em perpétua luta, o Negro e o Branco, o Destruidor e o Criador. E assim, o Criador e o Destruidor, ou Deus e Lúcifer, se limitam mutuamente; e nenhum deles atinge o absoluto. Deus é quase omnipotente, omnisciente e omnipresente; numa palavra: Deus é quase Deus. O relativo domina o absoluto, ou a Divindade maléfica e benéfica.
Mas Lúcifer, depois de Jesus, é um Ente à parte, ou distanciado de Deus infindamente. Este distanciamento operou-se no ventre de Maria, da Mater Dolorosa, isto é, da Dor Humana, essa Mulher!
Teixeira de Pascoaes

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