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sexta-feira, 17 de julho de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 12

Cynthia Guimarães Taveira

A Cor
Não há uma cor. A cor não é singular, uma cor é sempre mais outra e outra que se adivinha. Toda a matéria é diversa no seu íntimo assim como essa película fininha de cor que a cobre. A cor é apenas uma veste próxima, ou não, desse real íntimo. O pintor acerta os tons, afina a alma do que pinta com a cor que lhe induz. Isola e agrupa átomos de sentido. Corporiza o perfume dos sentimentos e acentua as cores uma nas outras até ao ponto mais próximo da alma que capta.
Todo o mar tem a sombra do abismo e as asas feitas de espuma do céu. Todo o mar tem uma ideia descendo vertiginosamente desde esse céu até à ponta do pincel. Todo o rigor está em aceitar isso ou não. Todo o saber está em ver isso ou não. Todo o amor está, ou não, em fechar os olhos e ver de novo essa imagem precisa, por dentro, na nossa tela interior. Contemplar é ir para muito além, tão além que o real se desvenda na sua verdadeira alegria: cores sobrepostas, sobre cores sobrepostas, até à última camada de luz, até ao centro do coração.

1 comentário:

  1. A COR DO MEU CORPO

    O meu corpo tem uma cor que não conheço. Tenho pincéis e uma tela que só o meu olhar vê na fonte do tempo. Não sei pintar, não sei que cores espalhar pela noite para pintar o vento dos meus sonhos. Perco tempo a observar a tela. A sua brancura é uma estranha que não compreendo. No entanto, não consigo usar os pincéis. Não sei exprimir as cores que são o amor do corpo que a cor não conhece. Gostava que as cores fossem palavras. Talvez sejam, mas é uma linguagem que me assusta. As cores não me compreendem. Talvez seja eu que não me compreenda porque o meu corpo tem uma cor que não conheço. Será que esta existência é uma realidade? Não sei se a cor o sabe.


    Jorge Brasil Mesquita

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