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Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



quarta-feira, 20 de maio de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 4

Cynthia Guimarães Taveira

O Público
Há duas espécies de público. O que conhece o artista e o que não o conhece. Ele olha agora pelos vidros antes de entrar na galeria. As pessoas formam pequenos aglomerados em frente a alguns quadros. Têm um copo na mão e conversam. Esse público é o desconhecido e será sempre um mistério para ele. Quase como se fosse um desdobramento das obras. Em cada um deles vive uma impressão diferente. Para cada um, a mesma obra é fonte de um outro olhar. Vêem coisas que ele nunca viu, comentam o que nunca se lembrou de pensar, atentam em pormenores como se fossem revelações até aí ocultas. São as asas de borboleta agitadas e inesperadas que pousam nos quadros-flor. Por fim, vão-se embora, a pouco e pouco, cada qual levando consigo o segredo encontrado.
Depois há os outros. Aquele público que está presente durante o trabalho. Os íntimos que partilham com ele refeições. Esses conhecem o universo por ele criado como se fosse o seu. Esses não se espantam nem descobrem segredos imprevisíveis. Esses respiram o mesmo ar e, na crítica, atentam na fidelidade que o pintor tem, ou não, perante si mesmo. Para eles, mais importante que a obra é essa pessoa que a cria, essa pessoa que amam. Esses não pensam que conhecem. Conhecem quase sem pensar. E, de alguma forma, estão sempre lá, algures no quadro, espreitando em exigência.

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