
Lagoa
Isabel Xavier
A lagoa, parada, espelho de água
Reflectia no céu não sei que pensamento
A Natureza em redor escutava
Como que em prece e em recolhimento.
Quem me dera poder apreender
A suave transcendência do momento
Contento-me de a olhar e ver
Não sei ir além do sentimento.
Nas águas calmas contemplo algo que alguém
Antes de mim já viu talvez sem ver
E o seu sortilégio ali me tem
Cativa da Natureza a renascer.
E é nas águas da lagoa que descubro
Algo de mim que nelas já se espelha
Talvez a paz que há tanto em vão procuro
Ou a tranquilidade de me tornar mais velha.
Se ante o meu olhar se dispôs tanta beleza
Foi para que sentindo-a pudesse mais que vê-la
E devagar me chega esta certeza
De que as palavras me foram dadas p’ra dizê-la.
E é tanta a lucidez desse momento
Que me ocorre um pensamento:
Será esta a fronteira da vida
Ou tão-só o limiar da despedida?
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