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quarta-feira, 8 de abril de 2009

PALAVRAS QUE FAZEM VER, 9

[Álvaro Ribeiro e Guerra Junqueiro]

"Guerra Junqueiro não é entre nós considerado um filósofo, apenas porque não escreveu livros de filosofia. Tão mesquinho critério bibliográfico, vigente em meios universitários, leva pelo contrário a considerar filósofos alguns professores que nunca manifestaram autonomia, profundidade, ou originalidade de pensamento. No entanto, ninguém que conheça medianamente as obras de Guerra Junqueiro poderá negar que o poeta sempre se interessou com ansiedade, se não com angústia, pelos problemas humanos, pelos segredos naturais e pelos mistérios divinos.

Não foi Guerra Junqueiro o cantor que apenas renova a expressão poética de uma ortodoxia ou de uma heterodoxia; não escreveu escolástica poética, se assim é lícito dizer. O seu pensamento de interrogação, indagação e inquietação, em vez de se deter em teses dogmáticas ou em conceitos fixos, caminhou sempre para mais além. É fácil apontar erros a quem se desencaminha, mas é difícil traçar a topografia da aventura espiritual.

Contemporâneo da luta entre o positivismo e o catolicismo, ou, paralelamente, entre mecanismo e finalismo, Guerra Junqueiro situou-se no lado da fidelidade às tradições portuguesas. Só assim é lícito interpretar hoje a sua obra satírica e polémica. No entanto historiadores há que, na impossibilidade de apreciarem uma obra de génio, não distinguem as intenções superficiais das intenções profundas.”

Álvaro Ribeiro

(in A Arte de Filosofar, Portugália, 1955)

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