Mas a Arca é muito mais do que uma relíquia bíblica, para uns bem real, para outros uma quimera ou uma fantasia piedosa. A Arca, para mim, e talvez para alguns, é um símbolo do que devíamos construir novamente neste tempo de outros dilúvios.
Trata-se, afinal, de preservarmos o legado precioso que nos deixaram os nossos maiores, entre eles o que continua mais perto do nosso coração e da nossa cabeça (António Telmo), e de transmitirmos essa herança, se possível acrescentada com os nossos contributos, aos nossos filhos e netos, ameaçados tal como nós por um «apagão» da memória, da identidade, da língua, da pátria e da mátria, face ao que ameaça aniquilar-nos agora e mais adiante.
Até mesmo a preservação das espécies está agora novamente em causa, e entre elas a espécie humana, a do verdadeiro Homem, com H maiúsculo, situado num certo espaço, falando uma certa língua, vivendo numa certa cultura.
António Telmo foi, é, e continuará a ser o mais perto que conseguimos conhecer de um Homem Justo que nos indica o caminho e o meio de escaparmos destas novas-velhas catástrofes. E sem nenhum dos defeitos de Noé (que era pouca coisa, embora o melhorzinho que então havia…). Buscou a luz entre as trevas e as ilusões. Quis sempre ser maior do que era. Usou a liberdade dos filhos de Deus sem se deixar prender por nenhuma amarra. Navegou pelo dilúvio da vida do Mundo Moderno confiando sempre na promessa de um lugar de paz, de verdade e de justiça. Sabia, de ciência certa porque iluminada, que um dia chegaria à sua Ilha do Amor.
Ensinou-nos, pelo seu exemplo, como se navega em águas tormentosas que duram muito mais do que quarenta dias e quarenta noites.
Porque as navegações, e os descobrimentos, não acabaram. E a necessária Arca ou Barca está em nós - somos nós. Uma Arca feita de palavras (como a original, tal como explica a etimologia hebraica) e das acções a que elas nos conduzem ou impelem, necessariamente.
Diante de nós, um dia destes, vai surgir um novo arco-íris, um símbolo da Aliança.
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