A INICIAÇÃO É RUPTURA
O eu não tem medo de perder o que quer que seja. Em primeiro lugar, porque nada lhe pertence. Em segundo, porque é tudo.
A Iniciação que é conferida ritualmente numa Ordem Iniciática autêntica transmite uma semente àquele que busca. Porém, assim como um terreno deve ser fértil e estar lavrado para abraçar e fazer crescer essa semente, o iniciável deve romper com o passado, romper com as falsas concepções que tem acerca de si próprio, romper com tudo aquilo que não é verdadeiro. Só quando deixar de pensar a Iniciação é que se tornará naquilo que já era mas não sabia, um Iniciado. É preciso ir para além de pensar a Iniciação. É preciso vivê-la, senti-la e pressenti-la. Por melhor que seja a semente, quando esta é plantada num mau solo, ou quando não é regada, ela jamais crescerá. Será uma semente morta, inútil, desperdiçada. Por isso existe o adágio místico: “Muitos são os chamados, pouco são os escolhidos."
Receber a semente é o mais fácil. É no preparar o solo e no cuidar da semente que está a chave da realização da Grande Obra. E aí percebemos que a semente nunca nos foi verdadeiramente “dada”, ela já existia em nós, mas estava adormecida.
A INICIAÇÃO É O DESPERTAR
Enquanto não despertarmos somos homens da torrente, seres adormecidos, inconscientes da sua verdadeira condição.
Aquele que Desperta nasce para uma nova realidade. Ele não nega o “Jogo do Mundo”, conhecido entre os hindus como Lyla, o mundo da manifestação visível e da aparência, de natureza fenoménica, fruto do mundo real e invisível, do incriado, de natureza numénica.
Não negando o Jogo do Mundo, aquele que Desperta aceita-o, porque sabe que faz parte da Máquina do Mundo. Mas aceita-o sem o tomar pela realidade. Aceita-o como ilusão. Ele está no mundo, mas não é do mundo, porém, vive no mundo. A sua pátria verdadeira é a das estrelas.
Aquele que Desperta reconhece o mundo que vive como um sonho.
Aquele que Desperta reconhece o mundo que sonha como uma realidade.
Aquele que Desperta, acorda e, assim, tudo lhe é revelado. Pois tudo está em si e Ele é tudo.
Ele é Aquele que É.
A INICIAÇÃO É O ABSOLUTO
A Iniciação está para além de quaisquer palavras. O segredo da sua eficácia apenas diz respeito àquele que a vive. Querer defini-la é negá-la.
Sem a Iniciação não se chega ao Absoluto.
O Absoluto é o abandono ao ser em si. É o não-fazer e o não-ser: a Não-Via.
A Não-Via não exclui as vias, antes integra-as, potencializando-as como facetas particulares da expressão do Real.
As nossas concepções da Realidade não passam disso mesmo, concepções. E, sendo nossas, nunca poderiam deixar de ser limitadas. Para abraçarmos o Absoluto temos de nos entregar, abandonando-nos ao Vazio. Aí nós somos aquilo que somos e não aquilo que pensamos que somos.
Vazio de mim, eu sou uma taça-receptáculo para o Divino, um Graal cujas facetas são a expressão do múltiplo que é uno.
Se, tendo vivido a ruptura, a negar, mergulharei na noite negra da alma e no limbo dos mundos.
A Iniciação leva à Ruptura.
A Ruptura provoca o Despertar.
O Despertar conduz ao Absoluto.
Saúdo o regresso deste blogue e felicito o Alexandre Gabriel pelo belíssimo texto agora publicado (que ele, há uns meses, me dera o privilégio de ler)...
ResponderEliminarBelo texto a encabeçar o regresso ao activo desta página.
ResponderEliminarCaro Alexandre,
ResponderEliminarGostaria, antes de mais, que tenha presente que as minhas palavras seguintes em nada pretendem apontar qualquer erro e muito menos alguma subtil tentativa de “corrigir” uma palavra sequer do seu claro, objectivo e – diria - gnósico ou gnóstico texto que, para quem o lê, não deixa nada obscuro no sentido que certamente lhe deu origem. Deixe-me até dizer-lhe que é difícil encontrar um texto, seja de quem for, que nos parágrafos que utilizou diga tanto em tão pouco. Perante a inundação de tanta tolice sobre a iniciação, que anda pela nossa sociedade, só posso dar-lhe os meus sinceros parabéns. Mais: fez um louvável trabalho didáctico, se assim posso chamar-lhe. O que eu queria dizer – que só se justifica porque, como é evidente, um artigo não pode dizer tudo sobre uma dada matéria – é o seguinte: as iniciações não correspondem ponto por ponto (algumas bem diversas) nas diferentes escolas iniciáticas. Só um exemplo: em dada escola, uma das “conquistas” do candidato é que pode deixar o seu corpo à vontade, ficando em estado de vigília, portanto consciente, podendo a ele regressar logo que queira. Parece que não é assim noutras escolas, porque, é bom de ver, no seio destas há, para além do comum a todas, objectivos específicos que se prendem com a oblação, ou o melhor, o que essa escola pode oferecer à humanidade PELA PREPARAÇÃO ESPECÍFICA dos seus iniciados, sendo que esse trabalho na Grande Obra é sempre discreto e do proveito possível para a humanidade.
Há ainda um outro aspecto que não costuma ser trazido ao assunto da iniciação: esse passo importante não é definitivo, isto é, passamos a barreira ou o umbral e pronto ficamos noutro “universo”. “O que está em cima é como o que está em baixo”, ou seja, um curso ou uma carreira profissional, é suposto que tenham vários anos, etapas, antes de uma culminação. A palavra iniciação é isso mesmo inicia-se… Uma coisa parece ser certa: qualquer iniciado atingiu domínio sobre si (pois só assim pode ajudar o mundo) e por isso utilizará o conhecimento com amor e altruísmo.
Mais vez os meus parabéns. Que belo e verdadeiro texto para o nosso blogue iniciar mais um ciclo!
Eduardo Aroso
Nada é feito sem a Graça de Deus (velha máxima alquímica).
ResponderEliminarParabéns pelo texto, Alexandre. É bom ver, em Portugal, uma nova geração de coisas a serem pensadas. Apesar do respeito e agradecimento que devemos ter pelos pensadores portugueses que nos antecederam, é tempo de aproveitarmos a liberdade e a informação para reflectirmos sobre outros sentidos. Todos nós, através dos nossos computadores, temos a possibilidade de viver numa espécie de biblioteca da antiga Alexandria devidamente actualizada. Devemos usar esse conhecimento para lançar naus em direcção a locais quase desconhecidos. Quase desconhecidos por sempre nos ter sido dito que eram pouco recomendáveis.
ResponderEliminarAgradeço a todos pelas vossas palavras gentis e desejo Boa Ventura a este renascimento do blogue. "Extravagar" é preciso...
ResponderEliminarAG