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sexta-feira, 18 de junho de 2010

ANOTAÇÕES PESSOAIS, 41

António Carlos Carvalho

Lamento muito mas não posso alinhar no coro angélico que pretende canonizar José Saramago, agora que morreu lá em Lanzarote onde se tinha auto-exilado. Sei que é uma coisa típica portuguesa: sempre que alguém morre por cá passa automaticamente a ser uma excelente pessoa, com lugar garantido no Céu.
Já tinha acontecido o mesmo com Álvaro Cunhal (que pretendeu transformar Portugal num satélite do Sol soviético) e agora repete-se com outro camarada.
E se falo de Cunhal agora é também porque Saramago teve -- convém lembrar -- comportamentos estalinistas públicos:
- primeiro em 1975, quando fez parte da direcção do «Diário de Notícias» e «saneou» (expressão característica dessa época sinistra) 24 jornalistas desse mesmo jornal, onde fora colocado para actuar como comissário político -- e nessa altura, eu, que nunca tenho participação política por descrer da mesma, desci à rua e juntei-me à manifestação na Avenida da Liberdade para protestar contra os tais saneamentos;
- depois quando mandou apagar (à boa maneira estalinista) o nome daquela aquem devia tanto -- a escritora Isabel da Nóbrega, uma grande senhora e excelente escritora que lhe ensinara a comer à mesa e lhe abrira portas do mundo literário -- nas dedicatórias dos livros que escrevera no tempo em que viveram juntos e os substituiu, nas reedições, pelo nome da nova mulher, Pilar del Rio, que nem sequer conhecia quando escreveu e publicou «Levantado do Chão», «Memorial do Convento» e outras obras.

Vista de Lanzarote

Aliás, valia a pena analisar a obra de Saramago tendo em vista os livros que escreveu no tempo de Isabel da Nóbrega e os que escreveu depois, no tempo de Pilar del Rio. Só para perceber as diferenças e tirar as necessárias conclusões…
E já agora convém igualmente lembrar esses livros lamentáveis deste último período, «O Evangelho segundo Jesus Cristo» e «Caim», iniciativas de marketing para chamar a atenção, através do escândalo provocado, sobre a própria obra. Certamente foi Pilar del Rio que lhe forneceu os temas e os materiais para tais iniciativas. Nada melhor do que um escândalo ou uma polémica para «dar vida» às vendas nas livrarias.
E a manobra resultou, como sabemos. O Homem é como uma árvore, e, tal como a árvore, reconhece-se pelos frutos. Não se pode separar o Homem e a obra como se fossem os compartimentos estanques de um submarino.
Na nossa avaliação de um escritor, creio nisso absolutamente, tem sempre de entrar em linha de conta o ser humano que ele é, ou foi, e o que ele fez do dom que recebeu de Deus. E claro que, para além desta poeira dos dias de hoje, o que resta, e permanecerá, é o Juízo Final -- e esse não pertence aos homens, mas a Deus. De quem, aliás, Saramago disse e escreveu tudo o que sabemos. E que nos envergonha.

4 comentários:

  1. Eduardo Lourenço disse hoje que, relativamente à Bíblia, Saramago a “transformou numa epopeia fantástica”! E parece ter dito bem, pois o autor de «Caim», no final da obra, - quem sabe se, lá no fundo, sentindo-se mais criador que o Criador(!) - coloca um ponto final na «epopeia», rematando com a frase «A história acabou, não haverá nada mais que contar». Embora se refira à história de Caim (a tal incarnação do mal!!!), o escritor parece ser o “Alfa e o Omega”. Em toda essa fantástica “epopeia” a que o seu contemporâneo se refere e não havendo nada mais do que a sua inteligência retirou (?!) do SIMBOLISMO de CAIM, parece que antes de Saramago havia o caos e depois dele nada mais haverá. Podemos contar que um dia destes ainda vai parar aos Jerónimos e, já se espera, com a bênção da Igreja!

    Eduardo Aroso

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  2. Republicado na NOVA ÁGUIA e no MILhafre

    Abraço

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  3. O que mais me chateia em Saramago -mas que também chateia, não são as suas afrontas à igreja católica e aos cristãos, nem tão-pouco o ele ter chamado filho-da-puta a Deus, o que me chateia mesmo neste homem, o escritor José Saramago que hoje tantos elogiam em Portugal, foi a sua defesa de integração de Portugal em Espanha como mais uma província, a exemplo da Catalunha, País Basco ou Galiza.
    Este homem, Nobel da literatura e arauto do iberismo, não era sociologicamente coerente e demonstrava um ódio visceral e preconceituoso à História de Portugal e um grave desconhecimento da realidade espanhola, levando-o a dizer; ter esta existido de forma mais ou menos pacifica ao longo dos anos. Lavando assim, o sangue derramado por Castela e a sua função na Península ao nível da Grande Sérvia e esquecendo Franco, o ditador que descaracterizou a Catalunha proibindo a língua e os usos, em prol de uma Espanha Una.
    Saramago fez jogo sujo defendendo uma patética tese de paz e união ibérica, esquecendo que Castela é responsável por exorcizar Portugal dos livros de História espanhóis, por descaracterizar Olivença esmagando e humilhando a cultura portuguesa e fazendo crer que Castela aceitaria a língua portuguesa, num discurso de meias verdades e distorcendo a História.
    Este homem, para além de ser um bom ou mau homem, um bom ou mau escritor, era sobretudo um muito mau português.

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