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segunda-feira, 27 de julho de 2009

OS POETAS LUSÍADAS, 25


[da série Nocturnos]

NOITES DE CHUVA

Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outono – já sem rosas –
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noites glaciais e pluviosas!…

Nessas noites sem luz, que – visionários –
Temos quimeras místicas, celestes,
E cismamos nos pobres solitários
Que tiritam debaixo dos ciprestes!...

Que evocamos os líricos passados,
As quimeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,
E os mortos corações sob as raízes!...

Nessas noites, meu bem, em que desfeito
Cai o frio granizo nas estradas,
E tanto apraz, sonhando, sobre o leito,
Ouvir a longa chuva nas calçadas!...

Nessas noites, eléctricas, nervosas,
Todas cheias d’aromas outonais,
Que a tristeza tem formas monstruosas,
Como, num sonho, os pórticos claustrais.

Noites só em que o sábio acha prazeres,
– Tão ignorados dos cruéis profanos! –
E em que as nervosas, místicas mulheres,
Desfalecem, chorando, nos pianos.

Nessas noites, meu bem! é que os poetas
Têm às vezes seus sonhos mais brilhantes,
Folheiam suas obras predilectas…
- E evocam rostos… e visões distantes!

Gomes Leal

1 comentário:

  1. Ó NOITE CRUEL

    Ó noite cruel do diabo sem amor
    És um sonho de beleza mortal
    Moves-te como um réptil sem odor
    E ferves no fogo da foz fatal

    Quem quer que ouça a tua morna agreste
    Acende a luz que rouba ao mistério
    O sopro da fada negra que veste
    Os trilhos tristes do teu corpo etéreo

    Eu vejo em todas as sinas amargas
    Os segredos que fogem com pavor
    Às veredas que nunca foram largas

    Becos curtos onde há mau humor
    E onde a noite espia a dor das cargas
    Que são a morte dos sonhos sem cor.

    Jorge Brasil Mesquita

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