
[da série Nocturnos]
NOITES DE CHUVA
Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outono – já sem rosas –
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noites glaciais e pluviosas!…
Nessas noites sem luz, que – visionários –
Temos quimeras místicas, celestes,
E cismamos nos pobres solitários
Que tiritam debaixo dos ciprestes!...
Que evocamos os líricos passados,
As quimeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,
E os mortos corações sob as raízes!...
Nessas noites, meu bem, em que desfeito
Cai o frio granizo nas estradas,
E tanto apraz, sonhando, sobre o leito,
Ouvir a longa chuva nas calçadas!...
Nessas noites, eléctricas, nervosas,
Todas cheias d’aromas outonais,
Que a tristeza tem formas monstruosas,
Como, num sonho, os pórticos claustrais.
Noites só em que o sábio acha prazeres,
– Tão ignorados dos cruéis profanos! –
E em que as nervosas, místicas mulheres,
Desfalecem, chorando, nos pianos.
Nessas noites, meu bem! é que os poetas
Têm às vezes seus sonhos mais brilhantes,
Folheiam suas obras predilectas…
- E evocam rostos… e visões distantes!
Gomes Leal
Ó NOITE CRUEL
ResponderEliminarÓ noite cruel do diabo sem amor
És um sonho de beleza mortal
Moves-te como um réptil sem odor
E ferves no fogo da foz fatal
Quem quer que ouça a tua morna agreste
Acende a luz que rouba ao mistério
O sopro da fada negra que veste
Os trilhos tristes do teu corpo etéreo
Eu vejo em todas as sinas amargas
Os segredos que fogem com pavor
Às veredas que nunca foram largas
Becos curtos onde há mau humor
E onde a noite espia a dor das cargas
Que são a morte dos sonhos sem cor.
Jorge Brasil Mesquita