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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

AFORISMOS, 4

Eduardo Aroso

16 - Nos extremos raianos dos actos rígidos decretados e das rotundas da banalidade onde se cultivam torres de Babel, para além dessa fronteira, começa Portugal.
17 - Os nossos olhos deixaram de ver longe, com lucidez, quando se voltaram para um ponto fixo, demasiado fixo. Vimos em demasia a cor e o preço da pimenta, e quantas vezes rejeitámos a temperança, embriagando-nos com o cheiro da especiaria. Aí criámos cataratas que importa retirar.
O nosso mandala deve ser o círculo, ou melhor, a esfera. Nos tempos em que se pressentiu que a fortuna poderia vir a desfazer-se, e quando nos encontrámos no caminho fatídico da expulsão de quem já morava no nosso coração, ainda assim, a melhor herança foi a esfera armilar para nos lembrar a necessidade quotidiana de olhar o mundo. Diz-se na teoria do mandala que, até que tudo se harmonize, não se deve fixar ponto algum. O olhar deve ser uma totalidade. Só depois encontraremos o ponto central ou, se quisermos, alguma revelação. Em geografia somos periféricos. Espiritualmente, só nos podemos realizar no centro do mundo. Do lado de fora, há que olhar ainda a linha do horizonte.
18 - «Se não é eleito, que se eleja!» Foi assim que Agostinho da Silva respondeu à pergunta habitual de quem geralmente cultiva meias-verdades sobre o nosso destino colectivo. Com rompante intuição, ou com sabedoria história, ou o Janus bifronte, o autor de Reflexão teria meditado naquele ponto tão enigmático que tem sido Ourique: o nosso primeiro Rei, ele próprio se armou cavaleiro, isto é, elegeu-se!
19 - Constituição Europeia – a esfinge clonada.
20 - Os assaltos (à mão armada ou desarmada) à cultura portuguesa ocorrem do seguinte modo: na impossibilidade de roubarem para transaccionar no mercado, os ladrões tudo escondem, de modo que ninguém destape, ou então deixam tinta de um tipo mais moderno e sofisticado que graffiti, para que seja difícil ler o que havia antes…

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