A um homem simples de Santo Tirso que todos os dias ia ao templo

desenho de Albrecht Dürer
Como sabes tu que Deus te chama todos os dias à mesma hora? Nunca o ouviste. Nunca leste nenhum livro – nem sabes ler letras. E, no entanto, todos os dias dizes que “sim, Amen”.
Em que corda profunda Deus te toca? Com que misteriosa ressonância respondes tu no alaúde da tua alma ao acorde que Deus tange em ti?
Ó meu Deus, o que os teus olhos viram! O que sofreste! A fome por que passaste… Não houve um dia, Verão ou Inverno, que a tua pele não estalasse mais um pouco ou mais um pouco mirrasse. Os teus onze irmãos morreram já, uns com pneumonia, outros à fome ou ao frio.
Carregaste toda a tua vida como um fardo pesado. E, ainda assim, que corda profunda Deus toca em ti? Com que misteriosa ressonância respondes tu no alaúde da tua alma a esse acorde? O que viu e sabe a tua alma de Deus para todos os dias à mesma hora, do mesmo modo, livre e obediente, responder? Que abismos insondáveis guardas no regaço da tua alma?
Não precisas de argumentos, sabes mais do que os doutores da teologia.
Ah! Que misteriosa íntima união se dá entre ti e Deus… de tal modo que ignoras que ele, o Senhor do Universo, Sonhador deste nosso mundo, Chama Viva do Pensamento, Criador dos nossos destinos, o Rei, o Único, te chama; e mesmo assim, sem saberes sabendo, respondes que “sim, Amen”.
Santo Tirso, 21 de Dezembro de 1998
texto originalmente publicado no blogue Maranos
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