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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ANOTAÇÕES PESSOAIS, 50


António Carlos Carvalho

«Um Príncipe não tem biografia. A sua biografia é a História do seu Povo».

Mouzinho de Albuquerque escreveu estas palavras para o Príncipe D. Luís Filipe, de quem fora nomeado aio -- a revelação foi feita pela cientista Maria de Sousa, agora premiada e que citou estas palavras para justificar que o seu prémio era na realidade devido ao povo português e ao País. O gesto é bonito e invulgar em época de tantas glórias vãs por coisas mais ou menos triviais.

Parece que o Príncipe nunca chegou a ler a carta -- viria a ser assassinado em 1 de Fevereiro de 1908, como sabemos (mas convém sempre lembrar, para contrariar a ideia-feita do «povo dos brandos costumes»…) --, mas a missiva foi publicada em Maio de 1908 e um familiar de Maria de Sousa guardou esse folheto.

Pelos vistos, Mouzinho de Albuquerque não tinha a mesma ideia do «Príncipe» que Maquiavel defendera, bem pelo contrário. Concluímos, igualmente, que nunca aceitaria ser aio de alguns príncipes mediáticos que hoje se expõem barbaramente aos olhares ávidos das multidões globalizadas.
Aliás, convém igualmente referir que Mouzinho, aclamado como herói nacional em 1897, veio a suicidar-se em 8 de Janeiro de 1902, poupando-se assim à visão da tragédia do assassinato do seu Príncipe e passando a figurar na extensa galeria dos ilustres suicidas portugueses que levou Unamuno a escrever que Portugal era «um país de suicidas».

Mas a sua frase (e o pensamento profundo que ela contém) devia talvez figurar em lugar de destaque do Palácio de Belém (que foi palácio real) e ser obrigatoriamente citada em todas as cerimónias de tomada de posse de novos governantes. Isto é, se estes soubessem previamente o que é um Principe e não estivessem convencidos de que seres desses só existem nos contos de fadas, coisas próprias de imaginações infantis…

Por essas e por outras é que defendo que temos de começar tudo de novo e voltarmos à escola da História, para então re-fundarmos Portugal, fazendo deste pedaço de terra, pelo menos, um lugar decente para se viver. Para vivermos juntos e, em paz e harmonia, cultivarmos este jardim.

1 comentário:

  1. É claro que (também) terá que ser com a vontade e a acção de homens e mulheres que o país e a nação se poderão refundar, mas creio que, da maneira como tudo está, só o poder do Espírito Santo – a quem os portugueses durante séculos tanto se dedicaram, através de rituais e festas – nos pode ajudar neste difícil trânsito. Para utilizar uma imagem prosaica, se houver automóvel e gasolina, não havendo o conhecimento para o guiar, não se vai a lado nenhum.
    E assim só se pode esperar o milagre do Divino injectar nas cabeças dos que nos governam alguma ideia salvífica (um começo) que possa mobilizar os braços e as almas para um propósito nobre de vida, pois outra coisa não é a VIDA.

    Um abraço
    Eduardo Aroso

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