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Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

EXTRAVAGÂNCIAS, 103

Notícia sobre António Telmo (1927-2010)*
Rodrigo Sobral Cunha

Figura aristocrática do Movimento da Filosofia Portuguesa, na linha de Sampaio Bruno, Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro e José Marinho, irmão de Orlando Vitorino e companheiro de Agostinho da Silva e de Dalila Pereira da Costa, atravessou António Telmo a nossa época entre 1927 e 2010, partindo na manhã de 21 de Agosto aos 83 anos de idade.
A sua obra propõe uma nova visão da história de Portugal, totalmente diversa das histórias oficiais ocidentais dos últimos dois séculos; ligada à Ordem do Templo e à Ordem de Cristo, aliando uma interpretação do Mosteiro dos Jerónimos a uma nova leitura do pensamento de Luís de Camões (em diálogo único com Fiama Hasse Pais Brandão) e apontando através do nevoeiro do seu tempo para um futuro presente sob o Reino do Espírito, da Liberdade e do Amor, perscrutado desde as flores do verde ramo até à Mensagem. Se o poder espiritual e o poder temporal tiveram a sua disputa esotérica no século XX entre as personagens de René Guénon e de Julius Evola, no caso de António Telmo dá-se a conciliação real e simbólica dos dois braços da cruz, na fidelidade à tradição templária portuguesa. Um dos mais originais filósofos da nossa época e um dos maiores escritores portugueses, conjugou tradições como a filosofia aristotélica e a filosofia hebraica, o sentido sagrado da língua portuguesa e o dom da palavra poética, a noção de firmamento e o culto dos heróis. Filólogo aberto à intuitio intellectualis do poder criador do verbo, a ele se devem, entretanto, a noção de uma gramática secreta da língua portuguesa e o conceito criacionista de razão poética. Pensador quinto-imperial, não deixa de considerar, no seguimento de Álvaro Ribeiro, que a soberania reside sobretudo na inteligência e na imaginação.
Ficam as obras: Arte Poética (Lisboa, Guimarães, 1963), História Secreta de Portugal (Lisboa, Vega, 1977), Gramática Secreta da Língua Portuguesa (Lisboa, Guimarães, 1981), Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões (Lisboa, Guimarães, 1982), Filosofia e Kabbalah (Lisboa, Guimarães, 1989), O Bateleur (Lisboa, Átrio, 1992), Horóscopo de Portugal (Lisboa, Guimarães, 1997), Contos (Lisboa, Aríon, 1999), O Mistério de Portugal na História e n’Os Lusíadas (Lisboa, Ésquilo, 2004), Viagem a Granada (Lisboa, Fundação Lusíada, 2005), Contos Secretos (Chaves, Tartaruga, 2007), A Hora de Anjos Haver: poemas (Porto, 2007), Congeminações de um Neopitagórico (Vale de Lázaro, AlBarzakh, 2006 / Lisboa, Zéfiro, 2009), A Verdade do Amor, seguido de Adoração: cânticos de amor, de Leonardo Coimbra (Lisboa, Zéfiro, 2008), Luís de Camões (Estremoz, Al-Barzakh, 2010), Viagens à volta de um tapete: a aventura maçónica (Lisboa, Zéfiro, 2010), O Portugal de António Telmo (Lisboa, Guimarães, 2010).
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* Texto do apontamento televisivo sobre António Telmo, que foi para o ar no programa Câmara Clara, da RTP 2, em 15 de Setembro de 2010.

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