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quinta-feira, 24 de junho de 2010

«SINGULARIDADES»: OS EXCERTOS, 12

A relação Médico – Doente

Paula Costa


O relacionamento entre um paciente e o médico é muitas vezes tenso, infeliz ou mesmo desagradável – é nestes casos que a palavra Médico não tem os efeitos desejados e muitas vezes essas situações são trágicas.
O médico tenta fazer o seu melhor – e mesmo assim, apesar de sinceros esforços de ambos os lados, as coisas, às vezes, correm mal.

Algumas pessoas têm dificuldades em ajustar-se aos problemas da sua vida e encontram refúgio na doença. Se o médico tiver oportunidade de as observar nas primeiras fases dessa doença – isto é – antes que ela se instale de forma “organizada” e definitiva, poderá verificar que os doentes oferecem ou propõem diversas doenças, até que ocorra um acordo entre o médico e o doente, em que ambos aceitam uma das doenças.
A variedade de doenças disponíveis para cada indivíduo é limitada pela sua constituição, pela sua educação, pelo seu estatuto social, e pelos seus receios conscientes ou inconscientes e as suas fantasias acerca da doença. O efeito médico principal – de substância – é a sua resposta às ofertas do doente.
Muitas vezes o doente pede primeiro um nome para a doença e um diagnóstico em segundo lugar, querendo saber o que pode ser feito para aliviar o seu sofrimento, como também as restrições e privações provocadas pela doença.
Algumas pessoas, ao adoecerem, propõem ao seu médico um leque do doenças potenciais – a partir do qual ele – médico – deve escolher uma aceitável.
A doença surge-lhe sempre como uma experiência inquietante e ele sente que algo está mal: para o médico o diagnóstico tem um efeito tranquilizador e, em primeiro lugar, é sempre um diagnóstico “físico”. As razões em regra avançadas para tal prendem-se com a ideia de que a doença física é mais grave do que a doença funcional – e ele sente muito justificadamente que fez um bom trabalho pois encontrou a verdadeira causa do sofrimento. É admissível que cada médico, quando confrontado com novo doente, tente atribuir-lhe um nível elevado e apenas o relegue à categoria de neurótico quando não encontra qualquer justificação para lhe assegurar o estatuto respeitável.

(...)

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