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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

PROSAS DE POESIA,1












A teia

Alexandra Pinto Rebelo

Há linhas invisíveis que se deslocam no tempo. Há fios de nada lançados tempo fora, fios de cores pálidas feitos de luz. Quem os emite sabe que o fez. Ou pelo menos, do alto da torre mais alta do seu palácio, ou castelo, num preciso momento, sabe que o fez.
Esse instante é difícil de definir. Talvez nem seja um instante, mas o intervalo entre todos os instantes, sem medida de tempo possível. Nem é um tempo, é um sentimento. O grande indizível, lançado por quem o sente, em fio feito de luz de cor pálida. Feito isto, o rei retira-se para o interior do palácio, onde já terão dado, certamente, pela sua falta.
E o fio segue, tempo fora.
Certa vez, andando ao começo da manhã, senti como que uma teia de aranha tocando-me na pele. Antes de tentar removê-la, senti a vontade de D. Dinis em saber do seu país. Se o futuro já era um imenso Templo erigido para o Senhor. Durante três dias por ali fiquei sem saber o que fazer. De pé, com a mesma expressão, na sucessão das horas. Apenas movimentava os olhos tentando compreender o que tínhamos feito. Onde estava o Templo? Claro que o tínhamos feito, senti. De tão extenso tomara todos os lugares. De tão vasto confundira-se com a cidade profana. De tão profético misturara-se com todos os tempos.

2 comentários:

  1. Este teu texto é lindo! Parece uma verdade primordial, uma espécie de arquétipo. E, ainda por cima, parte de algo que se passa num outro plano e acaba estendido a Portugal (pelo menos é assim que o leio...), como se a portugalidade fosse um Templo estendido no tempo e no espaço, a partir de D. Dinis. Lindíssimo, de facto. É bom conhecer pessoas que escrevem assim, e que são assim, como escrevem. Obrigada!

    Cynthia

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  2. A Cynthia já disse tudo.
    Parabéns. Uma pequena pérola este texto.
    Eduardo Aroso

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